Golpe que Bolsonaro pretende dar tem apoio camuflado dos políticos
O sonho de Bolsonaro permanecer no poder após 2022, sem nenhum esforço, sem a chancela do eleitorado, é o mesmo sonho de governadores impopulares, como Wilson Lima, do Amazonas, e de parlamentares que sabem o quanto será difícil a reeleição.
O presidente Bolsonaro não é o bobão que todos pensam. Enquanto alimenta sua trupe com ideias extravagantes, o Parlamento trabalha silenciosamente para introduzir medidas que favoreçam o seu projeto de poder. No final, não haverá um golpe, como muitos pensam, porque caminha-se para facilitar, seja através de Emenda Constitucional, seja através de projetos aprovados pelo Legislativo, alternativas legais para Bolsonaro permanecer no poder além de 2022, sem voto auditável e sem eleição, como ele quer.
A equação é sempre. Em não havendo eleição haverá naturalmente a prorrogação de mandatos, o que beneficiaria todos os governadores atuais, os 513 deputados federais, um terço dos senadores que encerram o mandato em 2022. E todos os estaduais, milhares de servidores empregados em gabinetes, além de uma redução substancial de gastos, que chegaria a alguns bilhões de reais. Impossível ? Nem tanto.
O sonho de Bolsonaro permanecer no poder após 2022, sem nenhum esforço, sem a chancela do eleitorado, é o mesmo sonho de governadores impopulares como Wilson Lima, do Amazonas, e de parlamentares que sabem o quanto será difícil a reeleição.
Bolsonaro sabe que não está sozinho nessa empreitada e que nem precisa de "golpe". Não o golpe tradicional, com apoio de tanques dos militares e do fechamento do Congresso. Afinal, já cooptou o Legislativo, tem a Procuradoria Geral da República debaixo do braço e colocou o primeiro tentáculo no Supremo Tribunal Federal. Outro dedão bolsominho será colocado nos próximos dias.
Essa é a forma das ditaduras do século 21, usando os legisladores. os magistrados e todos os instrumentos que o direito oferece, especialmente em um Pais que aprova leis todos os dias, que faz da Constituição uma colcha de retalhos, e que elegeu Bolsonaro para destruir todas as conquistas democráticas dos últimos 40 anos.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.