Governo Lula deve dividir responsabilidades pela invasão de Brasília
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Os maiores inimigos da democracia não estão apenas na extrema direita. Há, ainda, em grau mais nocivo, os que se julgam doutrinadores do Estado de Direito, cujos atos autoritários acabam estimulando um jogo perigoso...
Demorou para cair a ficha do presidente Lula, do presidente da Câmara dos Deputados e do Senado. No Supremo, o silêncio permanecia. Surpresa? Não. Negligência.
Durante a semana houve o monitoramento de ônibus lotados de manifestantes que se dirigiam a Brasília para atos “não democráticos”. Ninguém se preveniu.
O resultado foi o caos que se viu. Quem responsabilizar? Primeiro, os manifestantes, não todos, mas aqueles que depredaram o patrimônio público ao invadirem as sedes dos Três Poderes, num ato recheado de simbolismo.
Segundo, o aparato de inteligência do governo - aí envolvidos o Exército, a Polícia Federal, o Ministério da Justiça - que ou não previram os acontecimentos ou foram coniventes com eles.
Depois do susto, foram fartas as culpas jogadas um sobre o outro - Lula culpando o governador de Brasília, o PT questionando a passividade do ministro da Defesa com os acampamentos de bolsonaristas em frente aos quartéis, o ministro da Justiça prometendo prender todo mundo. Vai faltar espaço na cadeia, mas a caça às bruxas vai ser longa e implacável.
A questão é como reverter esse quadro de divisão do País e uma leitura coerente desses movimentos convocados pelo WhatsApp, mas sem uma liderança definida, o que demonstra a gravidade de um problema cuja tendência é se agravar.
É preciso que a direita entenda que Lula foi eleito de forma democrática e é legitimo o seu mandato. De outro lado, é necessário que o governo comece a buscar meios de unir o país. E não se chegará a esse objetivo intrometendo-se na vida dos cidadãos, restringindo a liberdade de opinião ou impondo um pensamento único, uma polícia ideológica ou ameaçando enquadrar todo mundo que discorda no inquérito dos atos antidemocráticos, que é o inquérito do fim do mundo, o menos democrático e o mais nocivo à democracia dos últimos cem anos, porque é o Supremo quem investiga, prende e estabelece penas. A quem recorrer contra excessos?
O brasileiro tem raiva e essa raiva está se transformando em ódio. Cada ato considerado excessivo, que ameaça romper os limites da Lei com a justificativa de que é necessário proteger o atual sistema de governo, na verdade é um meio de sequestrar o conceito de democracia, e mais e mais promove divisões na sociedade.
Chegou a hora de o Supremo deixar que o Ministério Público denuncie, que a polícia investigue. Cabendo ao Judiciário decidir as penalidades que cada caso requer.
Os maiores inimigos da democracia não estão apenas na extrema direita. Há, ainda, em grau mais nocivo, os que se julgam doutrinadores do Estado de Direito, que acabam estimulando um jogo perigoso, ao sequestrarem o conceito de democracia. Na prática, produzem apenas divisão, caos e estão muito próximos daqueles cujos atos combatem.
ASSUNTOS: Bolsonaristas invadem STF, Bolsonaro, Brasil, Invasão de Brasília, Lula, Planalto e Congresso

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.