A greve errada no momento errado
Dois sindicatos - o dos Professores e Pedagogos (Asprom) e o dos Trabalhadores em Educação (Sinteam) - ainda não se entenderam sobre a deflagração de uma greve geral, marcada para o dia 17. A disputa é política. A infiltração de gente de fora da categoria é notória - dos dois lados do espectro político.
A reivindicação é justa - afinal os professores estão sem reajuste salarial há dois anos, mas é preciso não esquecer que os alunos ficaram sem estudar durante 800 dias, entre meados de 2019 e dezembro de 2021, confinados em casa pela pandemia de Covid 19. As perdas foram imensas, o aprendizado comprometido e muitas crianças não voltaram a estudar, na maior evasão escolar de todos os tempos.
Portanto, cabe a pergunta aos educadores: A greve, por representar um distanciamento ainda que breve entre aluno - professor, aluno - escola, é justa ?
A divisão na categoria, com dois sindicatos, também dificulta o diálogo com o Estado e reforça a ala radical do movimento.
Pior, a incapacidade de dialogar é a marca dos dois sindicatos que brigam pela primazia de representar os professores no Amazonas. Mas o governo estadual também peca pela falta de criatividade.
Ao invés de eventualmente conceder abono aos professores, com as “sobras”do Fundeb, por que não definir uma política salarial que contemple os educadores usando integralmente o percentual do Fundo destinado para esse fim? De onde vem as sobras? A política de agradar professores com abono aqui e ali, não cola. Seu uso é exclusivamente político - eleitoral.
O resultado é esse quadro de greve que infelizmente deve caminhar para uma crise maior, em prejuízo da população.
Se os professores ganham com a paralisação - geralmente o governo acaba cedendo - as crianças perdem, as famílias perdem e o futuro da educação fica cada vez mais incerto.
ASSUNTOS: Amazonas, asprom, greve dos professores, Manaus, Sinteam
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.