A história de Suzy e Maria Eduarda, mortas no trânsito de Manaus
Nos rendemos à carnificina que começa no trânsito de Manaus e explode na violência praticada pelas organizações criminosas. É o espetáculo da morte que alimenta os vivos e coloca em xeque nossa humanidade…
Por trás de duas mulheres que morrem esmagadas em um acidente que poderia ter sido evitado, há um legado que a família guarda, sonhos em construção, expectativas de vida que ficaram para trás. São pequenas histórias que poderiam chegar aos leitores, humanizando corpos que se desfazem no asfalto.
Mas o noticiário policial é frio, os videos postados nas redes sociais despertam a curiosidade de milhares de pessoas para as quais o que importa são os detalhes da tragédia, não o que as vítimas faziam, o que elas sonhavam, como foi o acordar, o café das 7, os projetos para um dia que chegou ao fim ainda na metade da manhã.
Não. Ninguém se importa. Para quem noticia ou publica nas redes, o que vale é um clic.
Suzy Pedrosa de Caldas, havia completado 36 anos quinta-feira, 25. Os amigos e familiares reuniram em torno dela e cantaram 'Parabéns para você e muitos anos de vida", sem imaginarem que aquele era o seu último dia, a última homenagem que prestariam a Suzy .
Maria Eduarda, 17, sua companheira de tragédia, estava entre os presentes. Uma vida que se apaga muito cedo, levada pela violência da cidade grande.
Amanhã outra tragédia tomará o espaço da de hoje. E o que aconteceu com Suzy e Maria Eduarda cairá no esquecimento, porque diante de um Estado incapaz de cuidar de seus cidadãos, nos rendemos a carnificina que começa no trânsito e explode na violência praticada cotidianamente pelas organizações criminosas.
E novamente videos circularão nas redes, curiosos comentarão e replicarão. É o espetáculo da morte que alimenta os vivos, em clics que colocam à prova resquícios de humanidade que estamos prestes a perder definitivamente…
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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.