A história mal contada de um assassinato
Parece desnecessário para a polícia e também para a imprensa, identificar os motivos que deram origem a um homicídio. O fato relevante, embora seja o crime, seu fundamento é pertinente. De um lado, baliza o inquérito; de outro, dá credibilidade à informação.
O assassinato de Kennedy Cardoso pelo sargento da PM Ederson Oseias Cordeiro de Lira, na noite de Natal, tem a versão de testemunhas de que o militar olhou para Kennedy e perguntou se ele era vagabundo e em seguida atirou no rapaz. O sargento, em depoimento à polícia, revelou que foi atacado e atirou em legítima defesa.
É o que consta nos diversos veículos de comunicação, inclusive neste portal.
A gente aprende desde cedo que é necessário buscar as duas versões de um fato, como se isso satisfizesse aos leitores. Não satisfaz. Fica a dúvida e a impressão de que o jornalista é preguiçoso e a polícia desatenta.
Vale aqui o ensinamento do professor Jonathan Foster, da Universidade de Sheffield, quando diz que "se uma pessoa afirma que está chovendo e a outra diz que não está, o trabalho do jornalista não é simplesmente publicar as aspas de ambos. É botar a cabeça para fora da droga da janela e descobrir quem está falando a verdade."
É fato que Kennedy não pode falar. É a vítima fatal de um crime. A versão do policial é defensiva. A origem da discussão, seguida dos tiros que vitimou Kannedy, deve ser outra, mas ninguém foi atrás...
ASSUNTOS: ASSASSINATO, PM, polícia
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.