Invasões em Manaus: Da irmã Helena aos senhores do tráfico
As invasões em Manaus nos anos 80 tinham um pouco do idealismo socialista - a terra teria que ser compartilhada com todos, pelo direito a moradia digna. Surgiram personagem como irmã Helena e todo um exército de jovens engajados na Pastoral da Terra, com apoio da Igreja católica. A sociedade acabava sendo mobilizada por esse espírito de solidariedade com os mais pobres e sem teto. Hoje a igreja encolheu, os tempos são outros. Restou um grande vazio - o Estado sempre ausente, a igreja menor do que era - e o tráfico viu nas favelas um meio de criar um grande exército de homens e mulheres dominados pelo medo.
São milhares de pessoas submissas à vontade do chefe do tráfico.Da obediência depende a permanência na casa, o direito de circular e trabalhar fora do bairro,. É assim no Monte Horebe e em outras invasões, como o Cidade das Luzes.
A Polícia faz o que pode - alguma pirotecnia para passar a impressão que não faz nada.
Aqui e ali surgem informações de que o Ministério Público e a Polícia Federal têm provas de que oficiais da Polícia Militar do Amazonas se envolveram com o tráfico. Mas fica nisso. Nenhuma providência, como se o tráfico de drogas tivesse espalhado seus tentáculos sobre toda a estrutura legal que faz a base de um estado democrático, livre, com cidadãos usando o direito de trabalhar, de construir, de estudar e se orgulhar da terra onde vivem. Uma estrutura legal que parece amedrontada e se desfazendo...
ASSUNTOS: cidade das luzes, fdn, governo do amazonas, invasões em Manaus, Monte Horebe, tráfico
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.