Irmãos perdidos no tempo
Pela primeira vez em muitos anos, estou saindo de férias. Vou ver irmãos que não vejo há meio século. Irmãos com os quais compartilhei uma infância e que, como eu, envelheceram. A sensação de que o tempo ficou curto tornou essa viagem urgente.
Talvez eu nem os reconheça, mas sem dúvida mantêm os traços de uma família com tantas misturas, características que marcaram nossa origem e ainda estão lá, nos olhos cansados e nos cabelos embranquecidos, no semblante meio indígena, meio negro, meio caucasiano, e que resultaram em sobrinhos morenos, outros brancos de olhos castanhos e verdes.
Essa mistura me orgulha muito.
Passamos muitos natais juntos e vimos os anos sumirem. Dividimos em torno da mesa uma farofa de um ovo para 11, mas também tivemos momentos de fartura.
Vencemos, cada um ao seu modo - empurrados por uma mãe que usava o salário de professora aposentada para nos alimentar e instruir.
Por incrível que pareça ela foi a primeira a ser esquecida. Pais se vão e se esquece que eles moldaram nossas vidas.
Feliz Ano Novo para os leitores. Meu retorno será bem curto, de dois ou três dias, quando a coluna volta, assim como um programa ao vivo no Youtube.
Até...
ASSUNTOS: ano novo, Irmãos. origem, viagem
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.