Leitores sob censura
- Quando um meio de comunicação se julga no direito de ocultar de seus leitores informações sobre o ocorrido neste domingo na Av Paulista, está exercendo censura e trilhando um caminho perigoso…
- É compreensível que ditadores interfiram nas redações de jornais, mas não é normal que em plena democracia os meios de comunicação sejam seletivos, e em nome de uma ideologia soneguem aos seus leitores informações sobre ocorrências que são de interesse público.
A manifestação atribuída a bolsonaristas na Avenida Paulista, neste domingo, em São Paulo, foi ignorada pela maioria dos meios de comunicação, apesar da presença de milhares pessoas. O protesto era legítimo - contra a morte de um cidadão preso durante os atos de 8 de janeiro.
A censura ocorre para legitimar as ditaduras e prospera em muitos casos com apoio dos meios de comunicação. Foi assim em 1964, quando os militares destituíram um presidente eleito legitimamente e tomaram o poder com o apoio de donos de jornais, o Globo entre eles. O resultado foi um desastre: mais pobreza, mais endividamento externo e falta absoluta de liberdade.
É compreensível que ditadores interfiram nas redações de jornais, mas não é normal que em plena democracia os meios de comunicações sejam seletivos, e em nome de uma ideologia, soneguem aos seus leitores informações sobre ocorrências que são de interesse público.
Não importa se os manifestantes que ocuparam a Av Paulista defendiam também o impeachment do ministro Alexandre de Moraes.
Ou a democracia, se é que ainda vivemos em uma, permite ou não permite a livre manifestação de pensamento? Inclusive pedidos de afastamento de ministros, o que não significa que apelos desse tipo prosperem.
Mas é dever da imprensa profissional divulgá-los. Ser profissional. Não perder esse diferencial que ainda a mantém viva, presente na vida de cidadãos de um país dividido.
Não fazê-lo é tomar lado e a imprensa profissional não pode ter lados. Pode até manter linha editorial na qual manifeste uma opção política, mas o noticiário que veicula é básico, independente, feito para leitores que pensam diferente.
Quando um meio de comunicação se julga no direito de ignorar ou não fazer a cobertura de um acontecimento do porte do ocorrido neste domingo na Av Paulista, está exercendo censura sobre seus leitores e trilhando um caminho perigoso.
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ASSUNTOS: Alexandre de Moraes, bolsonarismo, censura, Lula, STF
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.