‘Leva esse corpo daqui, não é de minha mãe”. Manaus vive dia de vexame e espanto
A entrega de corpos trocados a famílias de vítimas da Covid 19 em Manaus, adicionou espanto e horror a um cenário já bastante dramático. E tornou a dor mais aguda.
O descuido de funcionários com os mortos e seus familiares tem um componente de desumanidade, de falta de compaixão, de desprezo com a dor dos outros.
O vírus ja não é a causa da ferida na alma quando um familiar é acometido e morre pela Covid. A dor vem de um vexame de servidores públicos descuidados, para dizer o mínimo.
São eles a causa do espanto e da humilhação. Em cada cadáver trocado deveria vir impressa a frase memorável do filme “A coisa”, do diretor Gary Dauberman, como assinatura desses poucos servidores que pecam pelo desleixo e pela incompetência:
“Eu sou cada pesadelo que você já teve, eu sou o seu pior sonho se tornando realidade. Eu sou tudo o que você sempre teve medo”.
E preciso ter medo mesmo de quem não honra cargos, funções ou atribuições que, em tese, deveriam ligar governo e sociedade.
SAINDO DAS COVAS PARA PROTESTAR
A crise do coronavírus não é a pior que o Brasil enfrenta. O desmantelamento de governos e suas instituições talvez seja o pior cenário que fermenta no caldeirão do caos momentâneo.
Agora é o próprio país precisa de respirador para enfrentar o vírus que corrói as entranhas do governo central e de alguns Estados como o Amazonas. A grita geral do povo exige ação.
Porém, os governantes se ‘enroscam’ em crises políticas por seus próprios interesses, alheios ao sofrimento do povo. Se não houver um basta, o terror vai precisar sair das covas para protestar.
ASSUNTOS: Amazonas, Bolsonaro, COVID-19, impechment, Manaus, mortos pela covid-19, sergio moro
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.