Lula precisa unir o País, mas está fazendo diferente…
O que Lula vê como ameaça à democracia pode ser a liga. A ameaça está onde ele não fixou os olhos ainda: fora dos quartéis, numa sociedade dividida, desencantada, atormentada pelo medo do que ainda pode acontecer.
Quando o presidente Lula expõe sua mais profunda desconfiança nos militares ele mina a autoridade dos novos comandantes das três Forças - nomeados por ele - e indiretamente fomenta a insubordinação. De outro lado, fragmenta a confiança no restabelecimento pleno da democracia. Lula deveria saber, por experiência própria, que o poder civil só prevalece quando detém o pleno controle das armas, o que o presidente não possui ainda.
Atribuir tentativa de golpe aos militares também é um erro. Primeiro, porque não pegaram em armas; segundo, não armaram nenhum grupo com tendência golpista.
O movimento predatório do dia 8 de janeiro em Brasilia pode ter sido incentivado por vários atores - políticos, militares, empresários - mas não passou de uma baderna, sem comando, sem finalidade a não ser depredar. Não havia sequer “um capitão armado” para se apossar do prédio do STF. Seus autores precisam ser identificados e punidos? Sim.
Lula vem sendo contaminado pela visão distorcida de atores que se imiscuem no meio político quando deveriam se ater a seus deveres legais. Agentes do Poder Judiciário, que com declarações estapafúrdias - como a de que a política do apaziguamento é destinada ao fracasso e não deve ser implementada - apenas contribuem para inviabilizar o diálogo, a paz e a união do País.
O que Lula vê como ameaça à democracia pode ser a liga. A ameaça está onde ele não fixou os olhos ainda: fora dos quartéis, numa sociedade dividida, desencantada, atormentada pelo medo do que ainda pode acontecer.
Lula precisa mostrar que o futuro começa agora, com um governo sério, sem perseguições a adversários, sem a tentativa espúria (gestada na Secretaria de Comunicação do governo) de censurar as redes sociais. Fazer uma administração republicana, respeitando valores e a liberdade de cada um.
Não precisa ser manso com os que passaram dos limites e depredaram o patrimônio público, mas pode unir o País, passar confiança, esperança. Governar olhando para frente. É o que se espera do novo presidente.
ASSUNTOS: Brasil, censura, Lula, militares, redes sociais, STF
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.