Manaus, 24 graus. Tempo mudando, natureza gemendo
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Contribuímos, com nossa omissão, para uma mudança radical do clima. Em Manaus, assistimos nos últimos anos a destruição de toda a vegetação que cercava a cidade. Vimos igarapés serem aterrados ou transformados em esgotos a céu aberto. Como seres desesperados a procura de oxigênio, esses cursos d’água continuam correndo em direção ao rio Negro, onde desaguam na dramática tentativa de respirar...
O mês de junho chegou sem o costumeiro calor da época. Metade do ano e um inverno que já dura 8 meses. Não é normal o sol se esconder entre as nuvens e a temperatura oscilar entre 24 e 28 graus. Não para os amazonenses.
Imagino um verão assim, estendido, com a temperatura beirando os 40 graus. Vivo em Manaus há muito tempo e os verões são insuportáveis, mas esse inverno baixou a temperatura e mudou a noção que tínhamos do tempo e das estações do ano. Meteorologistas podem ter outra explicação, mas parece claro que o clima está mudando radicalmente pela ação do homem.
De certa forma somos cúmplices de uma destruição da natureza feita sob o nosso olhar e que avalizamos pelo silêncio e pela indiferença.
A cidade de Manaus, por exemplo, cresceu horizontalmente nos últimos 40 anos e esse crescimento, que não parou, destruiu parte de sua vegetação natural. Os igarapés ou foram aterrados ou transformados em esgoto a céu aberto.
Como seres desesperados a procura de oxigênio, esses igarapés - esgotos continuam correndo em direção ao rio Negro, onde deságuam para respirar.
Envenenamos ou enterramos os igarapés e sequer imaginamos que estávamos envenenando o rio que abastece nossas casas e cuja água 95% da população bebe. É água tratada? Diz a empresa concessionária que sim. Mas quem vai averiguar isso?
O ideal seria não envenenar o rio Negro, não ter transformado os igarapés em esgotos. O ideal seria não pagar na conta de água uma taxa para a empresa usar os igarapés como escoadouro de fezes e água servida das residências,
Quer dizer, eles matam os igarapés e ainda cobram pelo seu uso… Isso tem que mudar, isso precisa mudar.

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.