Manaus, 48 hs sem água e um silêncio cúmplice
A concessionária Águas de Manaus atrasou o reparo na unidade de geração da Ponta do Ismael e a cidade, de 2,3 milhões de habitantes, ficou sem água. E nenhuma autoridade se manifestou. O poder da empresa é tão grande que o máximo que se ouviu, depois de 48 horas de interrupção, foi um tímido pedido de explicações da Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados do Município de Manaus.
O nome da agência é pomposo, mas sua atuação é discutível. Onera o contribuinte - mais funcionários, mais técnicos, mais relatórios inúteis, enquanto a cidade atura uma empresa que ganhou uma licitação suspeita e que vem sendo prorrogada a toque de caixa nos últimos anos.
O serviço melhorou ? Manaus paga uma tarifa altíssima, enquanto a empresa funciona graças ao apoio financeiro do Estado e do Município - foram centenas de milhões investidos pelo poder público na adutora da Zona Leste e em usinas de reciclagem de resíduos de esgoto.
Essa conta é paga pelo contribuinte - onerado duas vezes porque também tem que pagar por um serviço ruim e caro.
Com forte apoio do poder político - a última CPI que abriria a Caixa de Pandora com segredos e maldades no processo de privatização há 24 anos, terminou em pizza.
Os segredos ainda estão guardados. Alguém precisa abrir essa caixa e restituir à cidade o que pertence a ela - um patrimônio entregue a um grupo privado sem ouvir os principais interessados: os habitantes de Manaus.
O descalabro no fornecimento de água é tão grande que está a exigir, de um lado a presença da Defensoria Pública, defendendo os interesses de uma população sofrida, explorada, enganada. De outro, o Ministério Público, abrindo investigações para saber quanto saiu e ainda sai do bolso do contribuinte para expansão da distribuição de água, quando caberia exclusivamente à empresa concessionária fazer esses investimentos.
Poderiam começar investigando quanto retorna para o Estado em contrapartida dos investimentos feitos na adutora da Zona Leste. Quem administra essa adutora e se a concessionária paga o justo valor para distribuir água a partir daquela central de captação.
Manaus merece conhecer detalhes desses negócios suspeitos. A hora de agir é agora.
ASSUNTOS: Águas de Manaus, Falta dágua, Manaus em água, Saneamento básico
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.