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Manaus também alaga e sofre a cada chuva


Por Raimundo de Holanda

17/05/2024 20h44 — em
Bastidores da Política


  • "O céu desabou". Foi a frase usada por dona Danúzia, moradora do bairro São José, para explicar a rua alagada e a casa, à beira do barranco, ameaçada. Mas essa é uma velha história que se repete a cada mudança de tempo.
  • As vítimas são as mesmas, o noticiário parece retirado de memórias que, frequentemente renovadas, não se perderam.

Em busca de protagonismo, o repórter da TV pede para o cinegrafista mostrar a água entrando dentro das casas e rouba das vítimas a frase do dia: "onde estão os governantes?" 

Em tempos de eleição municipal a frase faz efeito, o repórter cumpre seu papel e a apresentadora do jornal diz que a emissora tem como fundamento o dever social de informar. Mas não disse como essa tragédia que abala centenas de famílias a cada chuva  começou. 

O alvo é o prefeito de plantão, não os políticos que vivem no conforto de duas casas legislativas e que, em alguma medida, ao longo do tempo, incentivaram as invasões em áreas próximas a igarapés, cercadas por barrancos, impróprias para habitações.

Olhando Manaus de cima, contam-se os edifícios e as os conjuntos dos bacanas, muitos postos de gasolina, centenas de farmácias. O resto é uma grande favela, onde se concentra cerca de 1,7 milhão de pessoas. É gente demais, a maioria vivendo de renda do Bolsa Família.

Concentrá-las em guetos, devido sua condição socioeconômica em certa medida foi um "achado" para demagogos em busca do voto. A prática continua, mas sutil.  Outros o fazem de forma reversa, mostrando as perdas e as desilusões dos que têm as ruas e casas alagadas. Isso também dá voto.

Chegou a hora de cobrar dos políticos ao menos a hombridade de tornar esse debate público, de apontar soluções, saídas para um problema que não foi criado pelos pobres, mas pela política daninha, que se espalhou como câncer ao longo dos ultimos 50 anos.  O resultado está aí. 

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ASSUNTOS: alagações, chuva, favela, Manaus

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.