Compartilhe este texto

Massacre de presos criou onda de indignação e oportunismo


Por Raimundo de Holanda

04/01/2017 19h22 — em
Bastidores da Política



Há um clima de indignação com o massacre de 60  presos em Manaus. E muito oportunismo.

Da OAB, que se apressou em ajuizar uma ação civil pública contra o Estado do Amazonas, mas foi omissa ao não atuar de forma decisiva para acelerar as audiências de custódia, que poderiam ter desintoxicado o sistema prisional. 

Do Judiciário,  que não criou o ambiente necessário para garantir a rápida apresentação de presos a um juiz nos casos de prisões em flagrante.

Do  Ministério Público, sem o qual  o juiz não decidiria sobre eventual concessão de liberdade a um acusado submetido a audiência de custódia.

Dos politicos, que continuam apostando no caos para pavimentar suas carreiras e seus projetos de poder.

Do Ministro da Justiça, que como advogado defendeu interesses de uma cooperativa acusada de ter  ligações com  o Comando Vermelho, mas que em Manaus se dispôs a ensinar  que o sistema prisional pertence ao poder público e não as facções, como se desconhecesse que  as prisões no País estão sob controle do crime organizado. 

Na verdade houve omissão quase cúmplice da barbárie exposta hoje para todo o mundo.

Mas a culpa cabe também a esse estranho mundo paralelo criado pela mídia digital, com seus falsos pudores, seus pecados escondidos, seus pesadelos compartilhados pelo WhatsApp  e Facebook, enchendo de sangue nossas mesas e nosso sentido de humanidade.

 Esse horror não  vai parar.. (RH)

MINISTRA ADVERTE

Para a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, que visita Manaus nesta quinta-feira, o sistema prisional brasileiro é um barril de pólvora prestes a explodir.

@@@

Em recentes inspeções realizadas em unidades prisionais do Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Rio Grande do Norte, ela advertiu que o quadro é preocupante e que a adoção de medidas saneadoras é um desafio às autoridades federais e estaduais do país, com a participação do Poder Judiciário.

@@@

A ministra desembarca em Manaus preocupada com a facção criminosa Família do Norte que iniciou a rebelião no domingo passado no Compaj com o objetivo de eliminar integrantes do PCC em uma disputa feroz de espaço entre as organizações que disputam o comando do narcotráfico no Estado.

CRIME ORGANIZADO

Levantamento realizado pelo Ministério da Justiça em 2015 mostra que as regiões Norte e Nordeste são o alvo preferido das facções criminosas que disputam a hegemonia do tráfico de drogas no território nacional.

@@@

Nessas regiões, facções como Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, e Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, cravam, a ferro e fogo  seus tentáculos de olho nos lucros milionários proporcionados pelo comércio ilegal de entorpecentes.

@@@

No caso do Norte, a posição estratégica na rota da droga, vinda de países na fronteira, como o Peru, torna a relação entre facções bastante complicada, o que explica, em grande parte, a matança de domingo passado no Compaj.

FDN DÁ AS CARTAS

De acordo com o “Mapa de Ocupação por Facção Criminosa”, do Ministério da Justiça, a Família do Norte (FDN), protagonista da chacina ocorrida em Manaus, é a sexta facção com maior número de chefes presos nas quatro penitenciárias federais de segurança máxima, com 13 integrantes. Ao todo, foram listados 504 detentos.

@@@

A FDN possui regras próprias e dificilmente realiza pactos com outras organizações. Informações dão conta de que ela tinha um pacto de convívio com o Comando Vermelho (CV), mas o laço foi totalmente rompido com a chacina de domingo passado.

 

Siga-nos no

ASSUNTOS: Manaus, massacre

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.