Massacre de presos criou onda de indignação e oportunismo
Há um clima de indignação com o massacre de 60 presos em Manaus. E muito oportunismo.
Da OAB, que se apressou em ajuizar uma ação civil pública contra o Estado do Amazonas, mas foi omissa ao não atuar de forma decisiva para acelerar as audiências de custódia, que poderiam ter desintoxicado o sistema prisional.
Do Judiciário, que não criou o ambiente necessário para garantir a rápida apresentação de presos a um juiz nos casos de prisões em flagrante.
Do Ministério Público, sem o qual o juiz não decidiria sobre eventual concessão de liberdade a um acusado submetido a audiência de custódia.
Dos politicos, que continuam apostando no caos para pavimentar suas carreiras e seus projetos de poder.
Do Ministro da Justiça, que como advogado defendeu interesses de uma cooperativa acusada de ter ligações com o Comando Vermelho, mas que em Manaus se dispôs a ensinar que o sistema prisional pertence ao poder público e não as facções, como se desconhecesse que as prisões no País estão sob controle do crime organizado.
Na verdade houve omissão quase cúmplice da barbárie exposta hoje para todo o mundo.
Mas a culpa cabe também a esse estranho mundo paralelo criado pela mídia digital, com seus falsos pudores, seus pecados escondidos, seus pesadelos compartilhados pelo WhatsApp e Facebook, enchendo de sangue nossas mesas e nosso sentido de humanidade.
Esse horror não vai parar.. (RH)
MINISTRA ADVERTE
Para a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, que visita Manaus nesta quinta-feira, o sistema prisional brasileiro é um barril de pólvora prestes a explodir.
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Em recentes inspeções realizadas em unidades prisionais do Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Rio Grande do Norte, ela advertiu que o quadro é preocupante e que a adoção de medidas saneadoras é um desafio às autoridades federais e estaduais do país, com a participação do Poder Judiciário.
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A ministra desembarca em Manaus preocupada com a facção criminosa Família do Norte que iniciou a rebelião no domingo passado no Compaj com o objetivo de eliminar integrantes do PCC em uma disputa feroz de espaço entre as organizações que disputam o comando do narcotráfico no Estado.
CRIME ORGANIZADO
Levantamento realizado pelo Ministério da Justiça em 2015 mostra que as regiões Norte e Nordeste são o alvo preferido das facções criminosas que disputam a hegemonia do tráfico de drogas no território nacional.
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Nessas regiões, facções como Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, e Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, cravam, a ferro e fogo seus tentáculos de olho nos lucros milionários proporcionados pelo comércio ilegal de entorpecentes.
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No caso do Norte, a posição estratégica na rota da droga, vinda de países na fronteira, como o Peru, torna a relação entre facções bastante complicada, o que explica, em grande parte, a matança de domingo passado no Compaj.
FDN DÁ AS CARTAS
De acordo com o “Mapa de Ocupação por Facção Criminosa”, do Ministério da Justiça, a Família do Norte (FDN), protagonista da chacina ocorrida em Manaus, é a sexta facção com maior número de chefes presos nas quatro penitenciárias federais de segurança máxima, com 13 integrantes. Ao todo, foram listados 504 detentos.
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A FDN possui regras próprias e dificilmente realiza pactos com outras organizações. Informações dão conta de que ela tinha um pacto de convívio com o Comando Vermelho (CV), mas o laço foi totalmente rompido com a chacina de domingo passado.
ASSUNTOS: Manaus, massacre
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.