Maurício Souza, Super-Homem bissexual e a hipocrisia da mídia
A liberdade de se expressar não se resume mais a um número restrito de pessoas. As redes sociais são a porta pela qual todo mundo diz alguma coisa. Mas nunca, como agora, a liberdade foi tão ameaçada. E não se trata apenas da ingerência de governos. A censura parte também e com mais frequência da mesma multidão que grita, se exaspera, reivindica, julga e condena.
Apesar de todo mundo falar ao mesmo tempo, predomina o conceito autoritário do politicamente correto.
É bom falar, comungar do que é correto, mas não se apropriar de um conceito que na prática se revela uma flagrante hipocrisia. É autoritário exigir que o outro pense igual a você, que comungue de seus ideais.
A coisa tomou uma dimensão maior no caso do jogador Maurício Souza porque se as redes sociais são o subterrâneo do inferno, em torno delas, pescando literalmente, há os predadores: meios de comunicação tradicionais que, para sobreviver as novas mídias , se tornaram uma caixa de ressonância de suas falas. Ai o bicho pega.
A manifestação do jogador do Minas sobre o anúncio da DC Comics, de que a nova série de quadrinhos mostrará um Super-Homem bissexual causou um tremendo reboliço. E o que ele disse não teve nada de homofóbico. Textualmente escreveu o seguinte:
“É só um desenho. Não tem nada demais. Vai nessa e vai ver onde vamos parar”.
Onde está a homofobia de Maurício? Não está na frase do jogador. A homofobia está na interpretação equivocada, maliciosa, dada à postagem que ele fez de forma inocente, como qualquer cidadão com direito a opinar. E a mídia tradicional teve um papel lamentável no desfecho trágico para a carreira do atleta, que perdeu patrocínio e foi dispensado pelo clube.
Bom seria que o Super-Homem continuasse heterossexual, mas os tempos mudaram. Mesmo a nova geração do Homem de Aço tem o direito de amar outro homem. Depois será vez de a Mulher Maravilha, desenho também produzido pela DC, aparecer bissexual.
É que o mundo cansou da rotina dos casais tradicionais, mas o preconceito não morreu, especialmente no Brasil, um país multirracial, mas onde a maioria se declara branca. Um país onde a policia mata negros todos os dias porque entende que a cor da pele externa uma suspeita; um país onde gays são espancados, perseguidos, discriminados e pouca coisa é feita para pôr um fim a esse inferno.
O problema do Brasil é a hipocrisia.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.