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Moraes tem discurso de chefe de Estado


Por Raimundo de Holanda

27/02/2025 20h46 — em
Bastidores da Política


  • Fica difícil para quem olha o País do exterior entender o papel do ministro na estrutura de poder no Brasil.
  • Como suas decisões extrapolam as prerrogativas do Poder Judiciário, muitos entendem que de fato ele governa a Nação.
  • Acabou o tempo da diplomacia. Com a ascensão de Trump, a lei que vigora agora é a do mais forte. E é aqui que o poder de Moraes é muito reduzido e pode ficar menor ainda.
  • De nada adianta o confronto. Em algum momento, para humilhação de todos, o país será obrigado a ceder na questão da "Big techs".
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O ministro Alexandre de Moraes fala como chefe de estado. Na resposta às investidas dos Estados Unidos contra decisão do judiciário de impor restrições à atuação sem controle das "Big techs", o ministro utilizou expressões típicas de chefe de governo: "reafirmo nosso juramento de defesa da constituição brasileira, pela cidadania de todos os brasileiros, pois deixamos de ser colônia em 7 de setembro de 1822 e, com coragem, estamos construindo uma república independente e cada vez melhor".

Moraes foi além, lembrou o papel da ONU, "em respeito aos direitos humanos e da autodeterminação entre os povos".

Era um discurso para o silente Lula fazer, não para Moraes.

Fica difícil para quem olha o Brasil do exterior entender o papel do ministro. Como suas decisões extrapolam as prerrogativas do Poder Judiciário, muitos entendem equivocadamente que de fato ele governa o Brasil.

Tem razão o ministro ao defender a soberania nacional, a submissão de empresas estrangeiras às leis brasileiras, mas esse é um papel que cabe ao presidente Lula.

A questão, entretanto, prenuncia um crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos.

Ao contrário de Trump, que decide o que quer, como quer, e vem submetendo a seus caprichos inclusive aliados europeus, Moraes tem um poder limitado, apesar dos excessos escandalosamente consentidos tanto pelo Executivo como pelo Legislativo.

Acabou o tempo da diplomacia. A lei que vigora agora é a do mais forte.

De nada adianta o confronto. Em algum momento, para humilhação de todos, o país será obrigado a ceder na questão da "Big techs"

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ASSUNTOS: Alexandre de Moraes, Donald Trump, Lula

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.