'Moro tem o apoio das ruas', mas o que se discute é outra coisa
As revelações do The Intercept ainda causam reboliços no País - e o time da “opinião pública”, comandado pelos comentaristas da GloboNews, continua sendo o fiel da balança. “Moro conta com o apoio das ruas”, disse ontem Gerson Camarotti. Mas isso é o que menos importa.
A invasão dos telefones de procuradores da Lava Jato e do então juiz foi criminosa. E isso a Polícia Federal vem investigando. Mas os fatos divulgados e não contestados tiram de Moro a condição de vítima.
As escutas revelam que ele não apenas orientou procuradores, como era sua intenção ir além, ao revelar o desejo de “limpar o Congresso”.
Moro não fala de um ou outro senador ou deputado. Fala de uma instituição que compõe os poderes da Republica. Imperfeito ou não, é um braço da democracia.
Não é demais repetir, para que “as ruas” entendam que quem critica essa situação não defende bandeiras, defende a democracia e alerta para situações autoritárias, claramente identificadas no desabafo do então juiz da Lava Jato. Releia e analise:
‘Ainda desconfio muito de nossa capacidade institucional de limpar o congresso. O melhor seria o congresso se autolimpar mas isso nao está no horizonte. E nao sei se o stf tem força suficiente para processar e condenar tantos e tao poderosos.”
Moro acabaria desaguando no governo Bolsonaro em troca de uma promessa: ser ministro do STF, um Poder que não pode se voltar contra outro Poder numa república, como desejaria o ex-juiz.
GOVERNO CONSPIRA CONTRA ZFM
O “Plano Dubai” revelado esta semana pela Folha de S. Paulo, mexeu com os nervos dos políticos amazonenses. Não deveria, a coisa parece ser mais uma ilação de um governo que ainda não se deu conta de que precisa aprender a governar, para realizar algo provável.
Até aqui, próximo de completar seis meses no governo, Bolsonaro continua sem governar o país. Seu ministério de ‘gênios de si mesmos’ continua fantasiando a forma das nuvens.
A mediocridade do plano anunciado pelo ministro da Sepec começa pela projeção simplória de gerar, daqui a 54 anos, minguados R$ 25 bilhões por ano, valor dos incentivos da ZFM hoje.
Em menos tempo, 52 anos, o modelo atual já alcançou um faturamento de R$ 92,67 bilhões por ano (2018). O que transforma em pura tolice a pretensão anoréxica do Plano Dubai.
O governo não tem os petrodólares árabes, se sustenta nas muletas das reformas previdenciária e tributária, e diz que o país vai quebrar em poucos anos se não forem feitas.
À falta do que fazer, o presidente e seu ministério dedica mais tempo coordenando as fofocas de suas redes sociais, do que de fato pensado num plano factível para o Brasil, sem Dubai.
ASSUNTOS: Bolsonaro, CNMP, Dalton Dallagnol, MPF, sergio moro, STF, The Intercept
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.