Moro é vitima a um só tempo da verdade e da vaidade excessiva
Saiba porque não libertaram Lula - Moro, o juiz, aparece nesse cenário brasileiro como uma pedra de gelo a ser decifrada. Se não derreter logo, se dirá dele o que foi dito da esfinge no Mito de Édipo...
A verdade sempre esteve escondida dentro de cada um de nós, seja nas nossas omissões, seja na nossa cumplicidade diária com o erro. E é curioso que a primeira indagação sobre a verdade tenha sido feita pelo quinto prefeito da Judeia a um homem inocente, mas acusado de sonegar impostos e se voltar contra as leis judaicas. Isso há mais de dois mil anos. E parece tão atual… Ainda ecoa: o “que é a verdade?”, frase de Pilatos antes de lavar as mãos.
A idéia aqui não é comparar Moro a Pilatos. Afinal, Pilatos sabia da inocência do acusado. Já Moro, mesmo na condição de juiz, buscava provas contra outro acusado, não tão inocente, mas vítima de um juízo incompetente e parcial. A questão é mais uma vez a verdade e o lugar que ela ocupa em nós e porque a negamos.
Moro aparece nesse cenário brasileiro como uma pedra de gelo a ser decifrada. Se não derreter logo, se dirá dele o que foi dito da esfinge no Mito de Édipo. Que era preciso decifrá-lo ou ele devoraria tudo ao redor. Aqui seria invocada a opinião pública, que envaidece e destrói. Depois o The Intercept para derreter sua coluna e melar o chão de espumas extraídas de sua vaidade excessiva.
Mas o que é a verdade? Ora, seu brilho não permite que ela seja escondida por tanto tempo. É o que está acontecendo agora, de forma muito clara e que somente a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal não viu em sua sessão desta terça-feira.
Os procuradores e Moro disseram de Lula algumas verdades, e usaram todo o poder do sistema para destruí-lo. E isso tem ficado muito claro nos últimos dias.
Moro, nas inquirições no Senado, falou a verdade escondida, sem querer dizê-la, mas na ponta dos dedos, para lembrar Sigmund Freud, ou o reverso, para repetir o sociólogo Eduardo Viveiros de Castro, em outro contexto, mas aqui, que ele nos desculpe pela apropriação da frase, para expressarmos o inconformismo com a decisão da Segunda Turma do STF ao julgar o caso Lula: “ainda que eles não possam impedir que a verdade seja revelada, eles podem fazer com que ela tenha pouca ou nenhuma consequência”...
ASSUNTOS: Bolsonaro, deltan dalagnol, lavjato, lula, SÉRIO MORO, STF, The Intercept Brasil
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.