Mortes no Compaj. A tragédia anunciada
A bomba estava armada e explodiu ontem. O resultado é essa tragédia estampada em toda a imprensa: fuga e mortes em presídio do Amazonas.
Como lidar com 1.300 presos somente no Compaj, e outros 5 mil espalhados nas demais unidades prisionais do Amazonas ?
É dificil responder.
O problema talvez esteja em várias instâncias de poder e na facilidade com que se decreta prisão no País.
Prende-se demais, muitas vezes sem culpa provada.
A prisão provisória dura tempo demais, e a cautelar não tem prazo. O individuo entra em um inferno do qual ou sai morto ou contaminado pelas novas e velhas companhias.
Muitas vezes o preso tem como culpa apenas o fato de ter atrasado a pensão alimentícia. Motivo de prisão? Sim, é o que diz a Lei, mas essa mesma lei não leva em conta a falta de emprego que esse mesmo individuo enfrenta.
Culpa dos legisladores, que olham os problemas sociais pelo avesso.
A solução apontada é a criação de novos presídios, quando a lei é que precisa ser modificada urgentemente.
O que ocorreu ontem no Compaj não é novo e se repetirá. A segregação não é a saída para todos os conflitos, mas a norma é criminalizar, especialmente parcela da população que já vive no inferno das favelas, com fome, sem a proteção do estado, sem emprego e sem futuro.
Ah, mas alguns traficantes foram mortos (e isso é bom...). Mas se mortes ocorrem em ambiente onde há a tutela do Estado, não importa quem morreu. Importa que o Estado, no caso, deixou de cumprir seu papel, de proteger o indivíduo segregado.
Segregar apenas revela o quanto a sociedade é injusta. Continuar como está, menos dramático e mais civilizado é legalizar a pena de morte, que na prática já existe. (RH)
QG DA CRISE
O secretário Sérgio Fontes montou QG no Centro Integrado de Comando e Controle, da Secretaria de Segurança na noite de ontem para acompanhar e prestar esclarecimentos sobre a rebelião e fuga nos presídios de Manaus. As disputas intestinas nos presídios do Complexo Anísio Jobim acontecem periodicamente e embora ocorram ‘vazamentos’ de informações dos comandos criminosos, a Sejus não tem conseguido impedir os acontecimentos.
ASSUNTOS: Amazonas, compaj, rebeliao
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.