Mulheres estupradas duas vezes...
- O projeto aprovado pela Câmara dos Deputados é bizarro, na medida em que estabelece punição descabida. É como se as mulheres, feridas e humilhadas, se tornassem vítimas de um novo estupro, ao terem seu direito legítimo de abortarem suprimido
O estupro é crime. A mulher pode abortar até 22 semanas após a agressão. Depois disso, o papel de vítima e agressor é invertido. Se a mulher tentar o aborto após esse período, é considerada criminosa, com pena de até 20 anos de prisão.
A medida consta em projeto de lei aprovado em regime de urgência pela Câmara dos Deputados.
Os que apontam a Câmara como uma casa majoritariamente masculina, têm razão, mas o projeto teve o apoio de dez mulheres com mandato e que fazem parte de uma direita atrasada, patriarcal, que vê os avanços sociais como nocivos à família e à religião.
Na prática, o que a Câmara fez foi legitimar o estupro e criminalizar as vítimas.
O surpreendente é o forte apoio da medida nas chamadas redes sociais, com a pauta de costumes ganhando cada vez mais espaço entre os brasileiros.
O projeto é bizarro, na medida em que estabelece punição descabida. É como se as mulheres fossem estupradas duas vezes ao terem seu direito legítimo de abortarem suprimido.
Um atraso lamentável.
ASSUNTOS: aborto, estupro
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.