Não ao lockdown em Manaus
Já não se trata mais de isolamento seletivo, ou isolamento social distanciado. Agora há um pedido do MP de restrição da liberdade de ir e vir - um direito fundamental - em nome do direito à saúde e à vida. Mas o confinamento proposto pelo Ministério Público não garante nem uma coisa nem outra. Por ser radical, expõe uma parcela considerável da população a fome, com grande chance de a violência aumentar na periferia, levando a uma previsível desordem social.
A questão é simples: não há policiais suficientes para conter 2,3 milhões de pessoas que vivem em Manaus confinadas em casa. É previsível a ocorrência de conflitos. O ambiente político atual é corrosivo e um problema adicional que deve ser considerado. Não faltará quem incite à desobediência.
O MP tem o melhor dos propósitos, mas deve entender que a chancela do Judiciário ao lockdown não vai conter a Covid -19.
Se os promotores que assinam o pedido sairem do seu conforto e entrarem nos becos da periferia vão entender que o confinamento vai provocar mais doença, mais violência. Em cada casa de um quarto, vivem de sete a oito pessoas. Nada comparado com os apartamentos da Ponta Negra ou as casas do Alphaville.
Uma ação do MP não pode abrir a caixa de pandora. Mas é o que está para acontecer, caso o Judiciário chancele o pedido de lockdown na cidade.
ASSUNTOS: confinamento, COVID-19, lockdown, Manaus, pansemia
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.