A novela de sempre: Zona Franca ameaçada
É incontestável a importância da Zona Franca de Manaus para o Estado do Amazonas e região, mas é um modelo arcaico, que criou privilégios e se aproxima do colapso. Era para ser temporário, mas a elite política e empresarial, que nunca pensou em alternativas de desenvolvimento, tratou uma questão de natureza econômica a partir de uma agenda pessoal que ocultava interesses eleitorais e que ainda hoje resulta em consecutivos mandatos. Prevalece o falso discurso de que o modelo vai continuar intocável.Não vai.
O recente embate entre o deputado Amon Mandel e o secretário especial da Reforma Tributária, Bernardo Appy, vinculado ao Ministério da Fazenda, é elucidativo, mas embute um atraso de 40 anos. Amom perguntou de Appy se o governo Lula tinha uma proposta alternativa ao modelo Zona Franca. Não teve resposta.
Parece claro que essa pergunta, embora apropriada para o momento, deva ser feita aos políticos que governaram o Estado nos últimos 50 anos. Aos que, numa tentativa de perpetuar facilidades, inseriram a Zona Franca nas disposições transitórias da Constituição, para “protegê-la dos ataques de inimigos do modelo”.
O que fizeram foi assegurar privilégios ao tempo em que inibiam ideias, arquivavam propostas de desenvolvimento sustentável e deixaram enterradas em solo amazônico riquezas que poderiam estar sendo exploradas. Foi a política da preguiça, do comodismo, da inércia onde apenas os espertos venceram até aqui.
Se a indústria, agora ameaçada pela proposta de reforma tributária - possivelmente com cortes no IPI e outros impostos - é colocada em uma situação de vulnerabilidade, atividades que poderiam estar impulsionando o desenvolvimento - como mineração, agricultura e pecuária permanecem estagnadas por falta de visão política.
O Amazonas está sentado econômica e socialmente em cima de uma nuvem - a Zona Franca - que vai passar. E quando passar ficará uma terra arrasada. O futuro - que nunca foi pensado - tem que se pensado agora e essa é uma tarefa para a classe politica, especialmente os governantes.
ASSUNTOS: Amazonas, reforma tributária, ZONA FRANCA DE MANAUS
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.