O Amazonas e a amarga experiência de dois mundos
- A rodovia que romperia o isolamento do Estado - a BR319 - é uma lenda, um sonho perdido em meio a prevalência do apelo ambiental.
O Amazonas sofre no inverno com a cheia dos rios, que invadem as cidades e desalojam milhares de famílias. No verão eles se despem de sua natureza visível e mostram suas entranhas. É como se vivêssemos a experiência de dois mundos marcados pelo desastre, pelo abandono, pela fome e pela tragédia.
Na seca a magia desaparece. O fundo do rio se revela pobre, com sedimentos e pedras visíveis - como um ser despojado de suas vestes. Para o amazônida é um tempo de escassez - o peixe morre ,o barco encalha e a vida muda radicalmente.
Não é apenas o caboclo que sofre, nem a natureza que padece.
Manaus, a cidade na margem do grande rio vive seu momento mais dramático.O Negro, o Amazonas (e seus afluentes) são as grandes avenidas. Por elas são transportados tudo o que gera riqueza e movimenta o comércio e a indústria.
A seca chega em um momento dramático para a economia do Estado: o aeroporto Eduardo Gomes iniciou uma reforma que penaliza a todos: os voos das manhãs foram suspensos e aeronaves que poderiam transportar grande volume de mercadorias não têm pista para pousar.
Sem dar satisfação alguma, a empresa que administra o aeroporto isolou o principal estacionamento ao ar livre. Deve estar com a ideia de fazer dele um curral. Os bois virão de fora e a boiada tem permissão para tripudiar sobre os que utilizam o Eduardo Gomes: os amazonenses.
A rodovia que romperia o isolamento do Estado - a BR319 - é uma lenda, um sonho perdido em meio a prevalência do apelo ambiental.
A Zona Franca de Manaus tem data para acabar. Qualquer hora aparece um doido falando em separação do Brasil que não cuida de um povo isolado
Ou os governantes compreendem que o País é grande demais e que políticas diferenciadas devem ser adotadas para cada região, ou se tornará pequeno, dividido e sem paz.
O tempo dirá o mal que essa indiferença está fazendo ao Brasil e aos brasileiros que vivem isolados no Amazonas.
ASSUNTOS: Amazonas, estiagem, seca
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.