O Beijo Gay na era Bolsonaro
Que semana estranha essa que vivemos. De tentativa de retorno da censura, ou das “trevas que dominam o poder do Estado“- como bem definiu o ministro Celso de Melo, ao se insurgir contra medida adotada pelo prefeito do Rio, Marcelo Crivela, de apreender o livro HQ "Vingadores - A Cruzada das Crianças”. A razão: o gibi traz na capa a ilustração de dois super heróis se beijando.
Crivela não tomou a iniciativa porque é um religioso fanático, mas porque o país vive um tempo de intolerância, de repressão às ideias, de atraso intelectual, de ofensa as mulheres que precisam ser jovens para ser respeitadas, da transformação da diplomacia em um circo, do encolhimento das universidades, da desmoralização da ciência e da pesquisa cientifica.
É isso que libera em gente inteligente como Crivela o lado mais repulsivo do ser humano, que é a ideia de que o que os outros pensam não vale, o que os outros sentem é imoral, a forma como os outros amam, se relacionam é abominável.
O beijo entre homens não escandaliza gente como Crivela ou Bolsonaro. Eles apenas reagem usando o poder de estado que possuem porque esse tipo de cena que o gibi mostra provavelmente desperta neles sentimentos que gostariam de manter guardados.
Talvez mantenham no intimo o desejo de um beijo gay que nunca foi dado, Ou se foi dado permanecerá em segredo.
Ainda bem que o STF derrubou a censura. Mas não caiu o tempo de escuridão no qual o país entrou desde janeiro. Nem caiu a ficha dos poderosos que gostariam de beijar na boca de outros homens.
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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.