O caso da família da Djidja Cardoso e a imprensa
- Não houve entrevista com os acusados. Houve uma inquirição grosseira que de certa forma agrada o grande público, mas apequena o jornalismo.
A família da Djidja Cardoso, ex-sinhazinha do Garantido, morta após uma overdose de ketamina, vivia uma aventura psicodélica pintada de céu, que se desfez na quinta-feira com a prisão da mãe, Cleusimar Cardoso, e do irmão Ademar Costa Cardoso.
Mas se a família vivia num mundo "brilhante e caótico", que negava a realidade ao tempo em que tornava suas alucinações um culto à droga, cooptando seguidores entre parentes e funcionários de um salão de beleza, o desmonte desse mundo foi também em meio a crueldade de uma cobertura de imprensa sensacionalista e indecorosa.
Não vamos entrar aqui na questão da liberdade de informar - que é vital e deve ser preservada- mas cabe aos profissionais de imprensa um certo cuidado na cobertura de casos onde os acusados também são vítimas.
O que será servido ao público, mesmo numa cobertura ao vivo, não pode nunca ser o espetáculo da dor, mas informação, sem o uso de uma linguagem violenta ou vulgar.
Não houve entrevista com os acusados. Houve uma inquirição grosseira que de certa forma agrada o grande público, mas apequena o jornalismo.
Não vai aqui nenhuma tentativa de ensinar comportamentos. Mas um apelo à sensibilidade de quem faz notícia, sem inflamar um público já contaminado por outra droga: o ódio disseminado pelas redes sociais ou as intrigas dali derivadas.
ASSUNTOS: Djidja Cardoso, Manaus, seita, Sinhazinha do Garantido
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.