O culpado pela tragédia de Manaus. Pazuello poupa Wilson por pura cortesia…
- Nas reuniões realizadas entre o ministro Eduardo Pazuello e o governador Wilson Lima nos dias que antecederam a crise da falta de oxigênio em Manaus, Lima omitiu esse problema, que já preocupava os médicos na cidade. Não é justo que Pazuello pague agora pela omissão do governador. O descontrole da máquina pública e a crise na saúde aceleraram ainda em maio do ano passado, quando o vice-governador Carlos Almeida deixou a Casa Civil, advertindo que havia ingerência de grupos de interesse que impediam reformas estruturantes e alertava para batidas contra o rochedo. O resultado está aí.
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Por cortesia e para não gerar uma crise política, o ministro Eduardo Pazuello, ao ser sabatinado no Senado Federal, não responsabilizou o governador Wilson Lima pela crise de desabastecimento de oxigênio em Manaus. Preferiu jogar a culpa em quem menos tem culpa - os gestores da rede hospitalar - a maioria médicos que se dedicam a salvar vidas e sofrem ainda hoje com a falta de insumos básicos.
Mas tem razão, em parte, o ministro: seu Ministério não foi avisado. Nas sucessivas reuniões que Pazuello teve com o governador Wilson Lima e o secretário Marcellus Campêlo, esse detalhe (da escassez de oxigênio) foi omitido. Não é justo que pague pela omissão do governador e do secretário.
Veio a crise. Crise de gestão da saúde pública, incompetência do governador e de seu secretário de saúde, influenciados por um rede de interesses privados que minam um governo que perde credibilidade e se derrete como gelo. Problema de gestão, sim, cuja consequência todos conhecem.
Aliás, um alerta já havia sido dado pelo vice-governador Carlos Almeida em maio do ano passado, quando deixou a Casa Ciivil dizendo que "não se singra por águas tormentosas sem que se tenha de enfrentar " Cila e Caríbdis", uma analogia a autofagia na qual o governo foi colocado ao se render a grupos de interesse.
Na mesma carta, o vice governador adverte que esses personagens se encontram dentro do governo e que ele vinha lutando "contra esses espectros", mas admite impotência para afastá-los, pois que era apenas um vice. Deu no que deu. O Estado entrou em declínio com a crise na saúde, onde se revelaram os Cilas e Caríbdis, com a compra superfaturada de respiradores e outros insumos. Depois, o caos, com a segunda onda e mais de 9 mil mortos.
É hora de Wilson prestar contas pelo desgoverno, de responder por crime de responsabilidade, de ser afastado do cargo, de o Estado e os amazonenses terem a oportunidade de um novo começo. Ou outras tragédias virão, arrancadas das sombra do imprevisível por um governador que desdenha dos cidadãos, que não compreende o sentido de governar, que não tem laços com a sociedade.
Carlos Almeida já advertia para a crise em maio de 2020. Releia Carta e tire suas conclusões
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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.