O dever dos magistrados de defender a liberdade
- O que juízes que ainda defendem a Carta de Direitos devem responder é qual o espaço onde cidadãos de todos os níveis podem usar da palavra e emitir opinião, senão as plataformas digitais. E se é dever deles preservar esse direito, como guardiões da Constituição do País.
Vem aí um ano eleitoral difícil para as relações do poder político com o cidadão. Quem elege não poderá opinar nas redes sociais sob o risco de ofender sensibilidades expostas. Qualquer juiz, com pouca qualificação, de oficio, poderá determinar a remoção de conteúdos ‘considerados falsos ou ofensivos’ em até duas hs. Quer dizer - um candidato amigo poderá fazer uma ligação e pedir que o magistrado aplique a regra da censura explícita que virou norma em processos eleitorais no Brasil.
O termo “desinformação” continua vago, mas é um instrumento que serve ao poder contrariado. Qualquer informação verídica poderá ser transformada em ”falsa”. Tudo depende das relações do político com o juíz.
O que está ocorrendo no Brasil é muito grave. Resoluções de tribunais, como o TSE, valem mais do que a Constituição. Regimentos internos dos tribunais valem mais do que a Carta que assegura a livre manifestação do pensamento, e dá aos cidadãos o direito a um julgamento justo.
O Judiciário ainda usa as expressões “sabidamente inverídico” ou “gravemente descontextualizado”, mas sem compreender a etimologia das palavras. Não estar de acordo com princípios ou regras é uma descontextualização, mas não é crime.
A democracia é produto das diferenças e da convivência pacífica entre contrários.
O que juízes que ainda defendem a Carta de Direitos devem responder é qual o espaço onde cidadãos de todos os níveis podem usar da palavra e emitir opinião, senão as plataformas digitais. E se é dever deles preservar esse direito, como guardiões da Constituição do País.
É verdade que não se pode usar abusivamente desse espaço democrático, sem observar que os limites estão no direito do outro ou dos outros. Mas é abusiva a forma como a liberdade nesse País é tratada por aqueles que têm o dever preservá-la.
O tempo dirá até onde a sociedade vai suportar essa mordaça.
ASSUNTOS: censura, eleições 2024, liberdade de imprensa
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.