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O 'Então Morra’ e as tragédias anunciadas


Por Raimundo de Holanda

24/02/2023 19h21 — em
Bastidores da Política



As ocupações irregulares em Manaus avançam sem nenhum controle. E em áreas nobres, como o entorno do Porto da Ceasa, onde ficava a antiga Siderama. Os dois lados da rodovia também vêm sendo ocupados.  Na Colônia Antônio Aleixo, o barranco que dava uma visão extraordinária do encontro do  Rio Amazonas com o Rio Negro, também foi ocupado. A prefeitura tem um projeto de urbanização para o local, mas precisa avançar.

O problema não reside apenas na ocupação, mas nos riscos de desabamentos, que apontam para tragédias anunciadas.

Não é de hoje que o inverno de Manaus produz desabamentos e a culpa recai no poder público, forçado a indenizar famílias que ficam desabrigadas.

Uma situação que tende piorar e exige do Estado e da Prefeitura uma atenção especial neste momento em que o inverno é um dos mais rigorosos dos últimos 30 anos.

Nunca é demais lembrar das tragédias ocorridas e que geraram comoção.

Em 2011, o então prefeito Amazonino Mendes visitou uma área na comunidade Santa Marta, onde duas crianças morreram durante um desabamento e, mesmo numa situação de grande risco, as famílias se negavam a deixar o local. O prefeito sugeriu que uma das moradoras apressasse a retirada de seus pertences da casa e prometeu alugar um imóvel, mas a mulher insistia em permanecer.

Amazonino advertiu que ela poderia morrer com toda a família. A moradora reagiu acusando a prefeitura de ser a responsável pelo problema. O prefeito insistiu que ela poderia morrer. A mulher se alterou e disse que não sairia. Amazonino, irritado,  proferiu uma frase que marcou negativamente sua carreira política e ficou na história: “então morra!”.

A história saiu truncada na imprensa, rendeu manchetes e o real problema ficou em um plano secundário.

Para os jornais e sites da época, era importante a frase fora de contexto, colocada na matéria nada jornalística do que um problema que dizia respeito a todos: a segurança das famílias, que geralmente ocupam essas áreas a um preço alto: compram terrenos invadidos pelo crime organizado, que faz das invasões um comércio e domina áreas extensas de Manaus. Isso precisa acabar.

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ASSUNTOS: desabamentos, Invasões, Manaus, Santos, São Paulo, tragédias

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.