O lockdown e as lições do juiz Ronnie Frank Stone
O que prevaleceu na decisão do juiz Frank Stones, que negou pedido do Ministério Público para que o Estado do Amazonas decretasse lockdown em Manaus e outros dois municípios, foi o “domínio da razão” ou o “primado da lei”. E mais que isso - respeito a separação dos Poderes, que é o pilar de uma democracia.
Além de apontar no pedido do Ministério Público "falta de base documental"que desse "sustentação à tutela requerida, baseando-se apenas em reportagens publicadas pela imprensa”, o juiz diz que “não cabe ao Poder Judiciário minorar ou agravar medidas de circulação de pessoas para a contenção de epidemias”.
Ficaram lições para um aprendizado interno do Judiciário e do Ministério Público: “ ao Poder Judiciário compete examina se as medidas” ( do Executivo) “contêm excessos que mereçam ajustes ou até supressão, mas nunca substituir a política adotada pelo Gestor Público por entender que ela não é o bastante.”
Mais adiante, uma frase tão forte quanto iluminada: “A rigor, o que pretendem os autores” ( da ação, no caso o MP) “é transferir para o Poder Judiciário a responsabilidade pela execução das medidas previstas em decretos do senhor governador, o que é inaceitável por conta da distribuição de atribuições dos poderes constituídos, dentro do sistema constitucional vigente”.
O sistema de freios e contrapesos - que é o controle de um Poder pelo outro, não faz do Judiciário um interventor contumaz em ações do Executivo, como aliás tem se tornado comum.
A decisão desta quarta-feira é importante não apenas porque evita um confinamento total, com todos os riscos de segurança que representaria, mas por ter a força de produzir um efeito dentro do próprio Judiciário, que agora terá que fazer uma reflexão e conter os que vêem na judicialização da política ou o que dela advém, um motivo para travar ações da administração pública, o que só penaliza mais ainda a sociedade.
ASSUNTOS: Amazonas, COVID-19, Frank Stones, Juxtiça, lockdown, pandemia em Manaus
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.