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O modo kamikase do deputado Amom Mandel Lins


Por Raimundo de Holanda

06/01/2024 21h23 — em
Bastidores da Política


  • Amom Mandel Lins tem razão ao reclamar da abordagem feita ao seu veículo - segundo ele, de forma violenta, o que precisa ser apurado - mas deve dizer claramente, sem dubiedades, o que fazia circulando com seus carro, as 22:30 em uma área vermelha, patrulhada diuturnamente pela Polícia.

Se os órgãos de controle, especialmente o Ministério Público, CGU e Receita Federal (ou mesmo a Polícia Federal), têm o cuidado de investigar e identificar elementos mínimos de materialidade e autoria antes de formalizarem uma denúncia, cujo fundamento resulta em autorização da justiça para procedimentos como prisões, buscas e apreensões, um parlamentar não pode relacionar autoridades com o crime organizado, com base em suspeitas, ainda que fundadas, ou em matérias divulgadas pela imprensa. 

Portanto, causou surpresa a forma desinibida com que o deputado Amom Mandel Lins veio a público denunciar autoridades por suposto envolvimento com criminosos, antecipando, ao menos para a população, um julgamento que não cabe às redes sociais do parlamentar, mas ao Poder Judiciário, depois da investigação feita, formalizado o inquérito, e recebida a denúncia, com a manifestação das partes, com amplo direito de defesa dos acusados.

Amom não é juiz. É um parlamentar, com deveres e precisa entender isso. Seu comportamento deve ser exemplar. 

Deve, sim, fiscalizar o governo e denunciar seus erros, mas sem riscos de cometer injustiça e antecipar julgamentos.

A denúncia feita por ele à Polícia Federal é legítima. Ilegítima foi a exposição que fez  ao abrir para o público o que a PF faz com critério, com sobriedade, mobilizando seus canais de informação para checar os fatos.  

Órgãos de controle  e a Polícia não aceitam intromissões, leviandades e são avessos a promoções midiáticas de quem que seja.

Amom Mandel Lins, tem razão ao reclamar da abordagem feita ao seu veiculo - segundo ele, de forma violenta, o que precisa ser apurado - mas  deve dizer claramente, sem dubiedades, o que fazia circulando em seu veículo, as 22:30 em uma área vermelha, patrulhada diuturnamente pela Polícia.

Se o deputado  suspeita que a  cúpula da segurança  armou um flagrante para ele, em razão de denúncia formalizada junto à Policia Federal, a sua presença em área onde sabidamente haveria uma operação não teria sido planejada para criar um fato novo, resultando no que resultou: uma ampla exposição  de seu nome na mídia ?  Pode ser. E pode não ser, mas o leitor deve ser crítico e avaliar os dois lados “da obra”.

O KAMIKASE

Amom Mandel Lins utilizou suas redes sociais para atirar nos seus alvos prediletos: a imprensa que critica seu comportamento desmedido e que, segundo ele, é patrocinada direta e indiretamente pelo Poder Público; e os governos do Estado do Amazonas e Prefeitura de Manaus. E disse que a partir de agora não mediria palavras e agiria como um “kamikaze”. 

O uso de palavras sem conhecê-las é um risco muito grande. Kamikases eram suicidas. Jovens japoneses que entravam nos seus aviões para destruir e matar durante a Segunda Guerra Mundial, sabendo que não retornariam às suas bases. 

Ninguém quer Amom, um jovem valor, destruindo pessoas e governos, nem sendo destruído.

É uma grata revelação para o futuro, mas precisa de preparo, que ainda não tem; de equilíbrio, que ainda não tem. 

Veja também: 

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ASSUNTOS: Amazonas, AMOM MANDEL LINS, polícia, rocam

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.