O poder conferido a grupos criminosos
- É triste saber que a classe política conhece o problema e muitos de seus integrantes já se renderam ao verdadeiro estado paralelo, especialmente em tempos de eleição, quando para entrar em um bairro buscam penosa e vergonhosamente a autorização do traficante da área.
Deram um status de poder aos grupos que lideram o tráfico e a distribuição de drogas: ”crime organizado”. Sequer têm uma hierarquia, funcionam na base do improviso. O êxito desses grupos, que passaram a ocupar territórios nas grandes e médias cidades ocorre pela fragilidade do Estado e pela conivência das autoridades.
Na última década, o sistema de segurança do Amazonas mapeou 2 mil “bocas”, abastecidas com cocaína e maconha. A ideia, ao que parece, era inibir o comércio da droga cortando a distribuição e fechando os pontos de venda. Mas tudo ficou no papel.
Alguém precisa explicar o que houve. Mapear e não agir, identificar e não atacar o problema induz qualquer leigo a questionamentos sobre o comportamento das autoridades envolvidas.
O tempo passou, esses grupos cresceram, se apossaram de bairros inteiros de Manaus e os casos de violência se tornaram rotina. Ontem, uma ambulância do Samu foi obrigada a sair da rota e atender, sob o peso de armamento pesado, um integrante desses grupos criminosos. Há três semanas, uma UBS foi invadida e uma enfermeira ferida.
O que fazer se o Estado se apequenou? Alguém pode perguntar dos profissionais de saúde que trabalham em UBS nos bairros de Manaus o drama que vivem, a violência a que são submetidos e o risco de vida que correm.
É triste concluir que pouco ou nada pode ser feito. É triste saber que a classe política conhece o problema e muitos de seus integrantes já se renderam ao verdadeiro estado paralelo, especialmente em tempos de eleição, quando para entrar em um bairro buscam penosa e vergonhosamente a autorização do traficante da área.
ASSUNTOS: Crime Organizado, Estado Paralelo
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.