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O poder da Águas de Manaus


Por Raimundo de Holanda

22/10/2023 19h53 — em
Bastidores da Política


  • Houve um momento em que se imaginou que a Câmara de Vereadores iria enquadrar a Águas de Manaus, expondo inclusive os interesses políticos que a cercam, mas ocorreu o contrário...

A Águas de Manaus aguardou o período das chuvas para iniciar as obras de ampliação do sistema de coletas de efluentes. O resultado é o caos no trânsito, ruas interditadas, lama e riscos de acidentes. A obra é necessária, mas como sempre a empresa atua sem nenhum controle.

Parte substancial do projeto de coleta de efluentes, com suas bases, foi concluída pelo Estado do Amazonas, via Unidade Gestora, a UGPE, com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento. O gasto foi de cerca de R$ 50 milhões. 

É uma conta que será paga pelo contribuinte, tributado duas vezes. Primeiro, porque se trata de um empréstimo que deverá ser honrado pelo Estado, ávido por recolher impostos de seus cidadãos. Segundo, porque a Águas de Manaus vai engordar a tarifa de água em razão da coleta de efluentes.

Na prática, a A.M ganhou mais um presente: usa recursos que deverão ser pagos  pelo Estado e se apossa de estruturas que deveriam resultar na redução da tarifa de água e esgoto, por dois motivos muito simples: o modelo de concessão dos serviços de água e esgoto em Manaus foi projetado para beneficiar a empresa que se apossou de bens públicos e lucra com eles. Vide a adutora da Zona Leste, que custou ao contribuinte R$ 350 milhões e foi repassada para a concessionária.

Qual a contrapartida? Melhoria dos serviços d’água?   Mas quem investiu foi o Estado, não a concessionária.

O negócio é bom demais. 

Houve um momento em que se imaginou que a Câmara de Vereadores iria enquadrar a Águas de Manaus, expondo inclusive os interesses políticos que a cercam, mas ocorreu o contrário: a CPI criada para investigar supostos negócios escusos e romper a caixinha de segredos que envolveu o processo de privatização da Cosama há  duas décadas  terminou em uma grande crapioca. 

Da CPI ficou uma lição. O poder político é fraco e a empresa é grande, os interesses que a cercam maiores ainda. O que fazer? 

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ASSUNTOS: Águas de Manaus, Amazonas, cossaca

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.