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O poder paralelo infiltrado


Por Raimundo de Holanda

10/02/2023 18h12 — em
Bastidores da Política



A Polícia Militar foi em peso para as ruas de Manaus diante da informação de que nesta sexta-feira o Comando Vermelho festejaria, com fogos, mais um aniversário. A coluna está sendo editada ainda muito cedo e provavelmente os fogos serão acesos. Ou não.

Ainda que o céu fique colorido de vermelho por alguma horas, o que vale abordar é o tipo de comportamento do poder público diante de uma organização criminosa que se apropria de território e se imiscui em atividades fins do estado brasileiro.

É séria essa afirmação, perigosa até - e isso é um risco que, como jornalista e cidadão, preciso e devo assumir - mas nenhum tipo de organização se consolida em nenhuma sociedade sem que  tenha, antes, realizado com êxito uma política de infiltração nos poderes constituídos.

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O problema é nacional, mas estamos em Manaus, onde há bairros dominados pelo CV, com regras próprias para funcionamento do comércio e acesso de pessoas “de fora”. Gente segregada, submissa à  vontade do grupo criminoso.

Os políticos sabem disso: tanto que, em período eleitoral, para entrarem em determinados bairros, precisam solicitar um salvo-conduto. Eles não admitem, mas são raros os que não viveram essa experiência.

Na verdade, os “comandos” criminosos existem como verdadeiros estados paralelos, oferecendo inclusive segurança a grupos confinados em bairros pobres. Por alguma razão, ou falta dela, o poder público é conivente, omisso, indiferente.

A questão é o risco de em algum momento esse poder paralelo vencer o jogo de gato e rato e assumir as atribuições do Estado de fato. E o risco está exatamente nas eleições, onde a cada ano grupos de vereadores e/ou  deputados são eleitos com apoio direto ou não dessas organizações. Evidentemente em razão de um preço, que um dia será cobrado, para o desespero dos que ainda acreditam na democracia, que prezam o estado de direito e lutam por ele.

Alguma coisa precisa ser feita, além, é claro, de impedir as comemorações. É preciso que o Estado brasileiro se sobreponha a esses comandos, liberte as comunidades sob tutela desses grupos, assuma seu papel - levando saúde, segurança, lazer, escola, empregos para essas comunidades. E mais: ponha fim a esses comandos, que são uma desmoralização para o Estado e uma verdadeira ameaça à democracia.

 

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ASSUNTOS: Comando Vermelho, Crime Organizado, CV, Estado Paralelo, Manaus

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.