Manaus e o Brasil sob ameaça de um 'inimigo invisível' - A comparação pode parecer sem sentido, mas quando a Polícia prende mais de 1.200 pessoas que em tese teriam participado do badernaço de 8 de janeiro em Brasilia e fariam coro a um projeto autoritário de poder, por que é tão difícil identificar, prender e decretar o fim das organizações criminosas que desafiam a democracia, os poderes da República, dominam as cidades, matando, viciando e  se apropriando do poder de polícia? Porque, de alguma forma, o poder político é conivente com elas. Ou foi corrompido. Ou não seriam tão audaciosas - e isso se tornou repetitivo aqui neste espaço - ao ponto de ameaçarem “bagunçar” as cidades e tocarem o medo na população.

Manaus vai dormir tensa com as ameaças de ataques a ônibus e ambulâncias - numa repetição do que ocorreu esta semana no Rio Grande do Norte. A Polícia está em peso nas ruas. Uma louvável precaução e tem domínio total dos presídios.

O problema é que há indícios de que os incidentes registrados em Natal são parte de um comando nacional que envolveria diversas facções unidas em torno de um projeto comum: forçar os Estados a melhorar as condições das penitenciárias e trazer líderes que se encontram em presídios federais para seus Estados de origem.

É uma ousadia sem tamanho. Um desafio intolerável. Chegou a hora de o Estado Brasileiro, especialmente os senhores de Brasilia - dos Três Poderes - entenderem que a grande ameaça à democracia no País está na divisão de poder - o poder legítimo, ocupado pelo Legislativo, Executivo e Judiciário - e  o poder paralelo que se apropria de bairros,  forma tribunais, estabelece pena capital, arregimenta jovens, cria exércitos e os arma - estabelecendo, em muitos casos, uma fronteira onde o Estado como conhecemos, termina,  e onde inicia a barbárie e o crime.

As cidades vivem sob permanente ataque. Uma guerra onde apenas nós, cidadãos, nos defendemos. Como se o inimigo fosse invisível - e não é. Como se todos fossem cúmplices, como se eles - os criminosos do PCC, do CV e do Sindicato do Crime  - viessem de um mundo superior para nos amedrontar e escravizar..

Como se os governos, eleitos para nos representar, fossem uma farsa. Como se os Três Poderes, livres e harmônicos, se perdessem nessa tentativa de harmonia, que nunca alcançam. Como se não enxergassem o óbvio: que o Brasil está sob permanente ameaça e os brasileiros são prisioneiros do medo. É Preciso libertar esse povo - libertar da ansiedade, da angústia de viver sitiado em bairros isolados, insalubres,  sob o poder das armas e dos tribunais do crime.