O STF não é Poder Moderador, nem ‘editor do País’
Ao liberar para votação pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal a ação sobre regulação das redes sociais, dois dias depois de a Câmara dos Deputados adiar a votação do projeto das fake news, o ministro Dias Toffoli mostra o peso do STF no atual cenário político - institucional do País e expõe o tamanho do desequilíbrio na balança de poderes em uma democracia.
A própria justificativa de Toffoli é cheia de simbolismo: “Eles [parlamentares] têm o direito de não querer decidir. Nós aqui no Judiciário não temos esse direito. Temos que decidir porque temos vidas, pessoas e partes que estão requerendo seus direitos ou seus pretensos direitos, e temos que julgar e decidir”.
Mas ao pautar a matéria no momento que a Câmara discute o projeto das Fake news, Toffoli interfere em outro Poder, com capacidade de decidir com os olhos da sociedade.
Seus representantes são eleitos e cabe a eles e não ao Supremo ditar as regras que fundamentarão o funcionamento da Internet e as novas responsabilidades dos provedores de conteúdo e usuários.
O STF, ao contrário do que diz Toffoll, não é um poder moderador, nem seus dez companheiros de tribunal “são editores de um país inteiro”.
Deputados e senadores, como representantes do povo, fazem melhor esse papel e dele não podem abrir mão sob pena de apequenar o Legislativo e torná-lo mero expectador das decisões do Judiciário, que se atribuiu o direito de legislar.
Em parte culpa de políticos, que provocam o Supremo cada vez mais em temas que afetam diretamente interesses partidários e de grupos econômicos, mas acabam ferindo a autonomia do Congresso Nacional.
É hora de equilibrar ações, dividir responsabilidades, respeitar a autonomia dos poderes. De colocar freio onde falta controle e pesos para equilibrar essa balança. Ou caminharemos para uma juristocracia, que não deixa de ser uma ditadura maquiada de democracia.
ASSUNTOS: Congresso Nacional, Dias Toffoli, Fake News, STF
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.