O valor de um nome: Amazonino
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Entrevistei Amazonino Mendes há cinco anos. Ele contou a história de sua vida. A desilusão com os “amigos de ocasião” e a política, feita de traições. (Mas também falou da infância, das aventuras como menino nos beiradões dos rios Juruá e Tarauace na sua Eirunepé).
Era um tempo de recolhimento. A política, para ele, tinha se tornado coisa do passado: “nunca mais”, disse-me, sem perceber que havia feito história, que era contada de pai para filhos e que a política é um vírus. “Nunca mais”, repetiu. Mas um ano depois lá estava Amazonino de volta, disputando eleição. Depois repetiu: “nunca mais!". E de novo voltou à politica. Sentia que faltava liga entre a nova geração de políticos com o povo. Faltava espalhar esperança, construir sonhos. E faltava, para ele, concluir uma obra, sem dizer qual.
Naquele dia da entrevista perguntei-lhe sobre amores e ele falou sobre Tarsila, a mulher que amou e que partiu deixando uma saudade que não se apagava e um perfume que ele ainda sentia. De repente pareceu perdido em lembranças que não revelou.
A entrevista foi feita no pátio de sua casa, cercada por árvores que balançavam ao vento e falavam uma linguagem que ele parece entender, trazendo recordações que eu despertara com perguntas indiscretas.
A entrevista ficou pela metade. Combinamos um novo encontro. Que não aconteceu.
Ao entrar na disputa pela governo, ignorando o seu “nunca mais”, Amazonino estava otimista. Mas os amigos de outrora haviam desaparecido. Os apoios minguaram. Então fez uma aposta. O seu nome, que se transformara em uma lenda, estava no imaginário das pessoas e a história de seus governos era passada de pais para filhos.
Quando as urnas abriram estava sendo medido o valor de um nome com as moedas dos adversários. Amazonino valia pela legado que ele deixou em seus vários governos e seu valor é moral: 349 mil almas digitaram seu nome nas urnas. Não foi suficiente para levá-lo a disputar o segundo turno, mas foi uma vitória - a consagração de um homem que vale pelo nome que tem.

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.