Plínio Valério e a "ciência desqualificada"
- Pode-se discordar dos cientistas que vêm alertando sobre consequências resultantes do asfaltamento da BR 319, mas de forma civilizada. Chamá-los de “imbecis, babacas, bostas e idiotas” é ultrapassar limites, uma fronteira que, rompida, conduz à intolerância e ao caos.
Plínio Valério até poucos anos atrás era um jornalista focado na divulgação de valores cristãos. Antes disso, militou nas redações dos jornais defendendo o que considerava o bem maior: a verdade. O jornalismo, o bom jornalismo, pautava o comportamento de Plínio. Embora nunca tenhamos trabalhado na mesma redação, a gente se conhecia.
É antiga a suspeita de Plínio sobre as Ongs na Amazônia e os interesses que elas escondem. Mas Plinio sempre enalteceu a ciência.O que mudou?
Foi com surpresa que vi o agora senador atacar um grupo de cientistas que adverte para um futuro pandêmico com o asfaltamento da BR 319, especialmente o conhecido “trecho do meio”, com consequências catastróficas para os seres humanos na medida em que desencadearia o “salto”de vírus, fungos e bactérias que se espalhariam e provocariam novas doenças.
Oa cientistas falam a partir das projeções que os estudos permitem. Não são criadores de casos e certamente não são contra que a Amazônia se desenvolva. Mas têm não apenas a responsabilidade, mas o dever de alertar para o surgimento novas pandemias em razão do avanço humano sobre a floresta.
Há várias formas de discordar.A pior delas é escolher o caminho da desmoralização dos que pensam diferente. No caso dos cientistas, é o trabalho deles que é desqualificado por um senador e a mais afetada é toda a sociedade.
Ciência é feita para todos. Mesmo os que são anti-ciência, se beneficiam dela.
Portanto, pode-se discordar do que os cientistas vêm alertando, mas de forma civilizada. Chamá-los de “imbecis, babacas, bostas e idiotas” é ultrapassar limites, uma fronteira que, rompida, conduz à intolerância e ao caos.
ASSUNTOS: BR 319, pandemia, Plínio Valério
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.