Eu era jovem e desejava completar 18 anos. Meu sonho de adolescente era ir ao cinema e assistir o filme daquele ano distante: “Por Trás da Porta  Verde”. Finalmente chegou o dia  de minha maioridade. Com a certidão de nascimento na mão fui ao cinema naquele 11 de novembro e mostrei ao juiz de menores - havia um juiz que controlava a entrada de menores nos cinemas. Ele analisou o documento e em seguida olhou para mim e disse: “essa certidão não é sua. Você deve ter no máximo 15 anos. Volta pra casa, moleque”. Acho que já contei essa história muitas vezes…

Depois fiz 20, 30,40, 50 anos… Experimentei a liberdade de ser adulto e assisti 30 vezes  “Por Trás da Porta Verde”. Sonhei tanto com aquela linda mulher que não havia nenhum lençol sem as marcas desse sonho delirante.

E agora chego aos 69, com a mesma ansiedade e o mesmo desejo do menino daqueles tempos…

A idade dos sonhos, do compartilhamento dos sentidos, de parceria com uma linda mulher .

Com uma diferença: aprendi um pouco da vida e posso dizer para os jovens que me chamam de velho, que fui jovem antes deles. Que sobrevivi a muitas batalhas, que perdi outras e adquiri sabedoria nas derrotas.

Aos 69 sou o mesmo menino daqueles tempos, buscando saber o que há por trás da porta verde, além de corpos que compartilham dor e prazer.

Nessa busca aprendi que há outras portas, algumas perigosamente abertas, espalhando preconceito, inveja e ódio. Outras, onde reside o perdão e a fraternidade permanecem fechadas, mas  podem ser abertas porque as chaves estão em nossos corações…