Prendam os médicos e neguem a Constituição
Cresci ouvindo que o Poder Judiciário tem a natureza de mediar conflitos.E que decisão judicial não se discute. Cumpre-se. Mas discute-se à medida que juízes interpretam a lei de forma dúbia e estabelecem sentenças que contrariam direitos fundamentais - como o de médicos estarem obrigados a comparecer ao trabalho sem a devida remuneração, ou quando os ameaçam de prisão caso contrariem a medida judicial adotada. Isso não está na lei, é uma visão equivocada do juiz sobre normas tão claras que deram dignidade ao trabalho. E é uma coação da autoridade judiciária.
A ameaça de prisão remonta ao coronelismo e ao trabalho escravo, atacado pelas normas do direito. O caso dos médicos que trabalham sem receber, em condições degradantes, com ameaças de danos à saúde e risco de vida é um escândalo e maximizou-se pela decisão da desembargadora Joana Meireles nesta quinta-feira.
Para além das questões levantadas por um Estado incompetente, era preciso analisar outras variantes.
Há na decisão da magistrada uma inversão de valores e de direitos. As vítimas - o Icea e os médicos que dele dependem - são os vilões, e não o Estado e seus prepostos ineptos, exploradores e incompetentes.
Ameaçar de prisão os médicos que trabalham sem receber fere os mais relevantes princípios do direito, especialmente a liberdade laboral, não podendo ser alvo de coerção executiva judicial como parece pretender a decisão da magistrada.
ASSUNTOS: Amazonas, greve dos medicos, Icea, joana meireles, Manaus, Tjam, wilson lima
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.