A primeira mentira e a última verdade
A mentira não foi inventada. É uma verdade prevalecente que o homem criou. Está na nossa origem. Na origem do homem. Apenas para ilustrar o texto de hoje, vou contar uma historinha que toda criança com muitos irmãos viveu. Lembro que aos oito anos de idade meu irmão mais velho passava e me dava um “cascudo”, com o nó dos dedos dobrados. Doía demais. Eu reclamava e minha mãe o repreendia. Em sua defesa ele apenas dizia: “Mãe, ele é um chorão. Eu mal trisquei nele”. Era como dizer: “foi um carinho. Passei de leve a mão na cabeça dele”. E me olhava com desdém, me acusando de “chorão”.
Na escola, colávamos. A professora suspeitava, mas perguntava: “Você tá colando?” - Não 'fessora', quem disse?
Mas estava sim. O pior eram as acusações em uma família grande, num mesmo cômodo. Quando alguém peidava todos se acusavam e ninguém admitia que havia soltado o pum.
Essas histórias não caberiam aqui, mas eram tempos nos quais a mentira tinha um preço: a vergonha. E era simplesmente fútil, não fazia mal como agora, em que a verdade ficou em segundo plano e tende a desaparecer. Talvez porque a mentira tenha origem mais antiga do que a verdade e é bíblica - na narrativa de que uma costela supostamente retirada de Adão tenha dado origem a Eva.
As mulheres nunca engoliram essa história…
Os tempos mudaram e a mentira tomou o espaço da verdade de forma assustadora. O avanço tecnológico, especialmente o aparecimento do celular permitiu que as pessoas conspirassem mais, mentissem mais e fizessem da mentira um negócio.
A mentira passou a representar poder. E agora ganha um novo canal de disseminação e criação - a inteligência artificial, que está chegando aos celulares.
Pode ser útil para mil coisas boas. Mas como toda boa criação tem seu lado ruim e muitos se valem dele.
ASSUNTOS: Adão, Eva, Fake News, Mentira, Pós-verdade
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.