A prisão da Digital Influencer e o 'julgamento' do delegado
O delegado da Polícia Civil Fabio Silva tentou uma explicação tardia para o excesso cometido no dia anterior, quando divulgou vídeo ofensivo na internet, chamando uma digital influencier de “caboclinha feia”. O delegado poderia, caso fosse responsável pelo inquérito policial, discorrer sobre o caso, explicar o envolvimento da menor em suposto crime de roubo, os fundamentos da ação movida contra ela e realizar análises da tipificação formal e material da infração penal cometida. Mas nem isso era.
Não é o responsável pelo inquérito, se imiscuiu em assunto que não lhe dizia respeito, apenas a título de promoção pessoal e na ânsia de vender um “livro”, que agora, como ele mesmo diz, em novo video depois da veiculação de matéria pelo Portal do Holanda, está saindo mais…
A Corregedoria da Policia Civil do Amazonas se manifestou dizendo que abriria uma investigação. Boa vontade há, mas esse tipo de investigação não evolui em uma instituição marcada por forte corporativismo.
Ademais, cabe levantar várias questões sobre a live que o delegado divulgou:
1- Fez um julgamento da aparência de uma menina que não estava sendo presa por ter o perfil de muitas mulheres nascidas do cruzamento de raças, caso tipicamente amazônico.
2- Ser filha de uma catadora de lixo apenas mostra que a menina tem uma origem humilde, mas digna. Se errou, que pague pelos erros, não por ter os cabelos encaracolados ou a aparência que o delegado não esperava.
3- É questionável a motivação que levou o delegado a se manifestar da forma como fez: deselegante, preconceituosa, igualado-se a tudo o que de boçal e doentio há nas redes sociais, com gratas exceções, mas em sua maioria gente descarregando suas frustrações em um nível intolerável,
4- Que um delegado tenha o livre convencimento técnico-jurídico sobre um inquérito, isso é louvável. Mas como já dissemos, nem autor do inquérito era, e as considerações que fez atentam contra o bom senso, agridem os amazônidas e se comparam ao lixo que infelizmente contamina as redes sociais.
5- O delegado parece não ter espelho em casa. Tem aspecto tipicamente amazônico. Alguém poderia baixar ao nível dele e dizer que se trata de um caboquinho feio.
ASSUNTOS: Amazonas, delegado, digital influencier, justiça, Manaus, prisão, redes sociais
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.