Projeto da Câmara abre comportas para crimes financeiros
- O que tem de danoso no projeto, aprovado por maioria na Câmara dos Deputados é a tentativa de driblar norma do Coaf, que previne fraudes financeiras e estabelece distinção entre pessoas politicamente expostas...
A imprensa vem divulgando erroneamente o alcance do projeto aprovado pela Câmara dos Deputados que torna crime a “discriminação de políticos”.O termo não é esse. A expressão correta é “discriminação contra pessoas politicamente expostas”. E não blinda apenas políticos em cargos eletivos e seus familiares, mas membros da administração direta e indireta, dos tribunais estaduais de justiça e de contas, dos tribunais federais, das empresas e autarquias, da Polícia Federal, além de integrantes do Supremo Tribunal Federal. Na prática, todo o funcionalismo.
O que tem de danoso no projeto, aprovado por maioria na Câmara dos Deputados, é a tentativa de driblar norma do Coaf, que previne fraudes financeiras e estabelece distinção entre pessoas politicamente exposta, determinado o monitoramento de suas atividades bancárias. Caso o projeto passe no Senado, os bancos perdem a autonomia de restringir ou encerrar a abertura de contas com movimentações suspeitas.
O PL aprovado pela Câmara é claro. Não houve de parte dos parlamentares o menor constrangimento em afirmar que “pessoas politicamente expostas” encontram dificuldades em abrir contas no sistema financeiro, daí a punição prevista no projeto às instituições que imponham empecilhos a esse grupo privilegiado: o funcionalismo público, onde se concentram os donos do dinheiro e que conhecem o caminho das pedras.
A medida também beneficia membros do Ministério Público, da CGU, das Forças Armadas e integrantes do Coaf e do Banco Central do Brasil. Afinal, são servidores públicos… Aqueles que devem ser bem tratados, sem a obrigatoriedade da reciprocidade.
Por exemplo, quando você vai a uma repartição pública dá logo de cara com uma plaquinha advertindo:
“É crime desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela” O que passa a ideia de que você não pode reclamar, não pode argumentar e nunca tem razão. É assim que o Brasil funciona.
ASSUNTOS: Brasil, Câmara dos Deputados, Coaf
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.