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Quando o STF é o primeiro a errar


Por Raimundo de Holanda

06/12/2024 20h12 — em
Bastidores da Política



Não é necessário ser jurista para compreender que ao decidir pela permanência do ministro Alexandre de Moraes na relatoria do inquérito que apura atentado à democracia, e que tem como principal alvo o ex-presidente Jair Bolsonaro, o Supremo Tribunal Federal foi parcial, e, portanto, ignorou um dos princípios básicos do estado de direito: o de que todo cidadão acusado de crimes terá assegurado o devido processo legal e a ampla defesa. 

Mas por que essa decisão do STF interfere nesse princípio? Porque o ministro que vai relatar o inquérito não é apenas alvo da trama, mas fala fora dos autos e faz julgamentos antecipados. 

Declarações de Moraes, dizendo que os golpistas primeiro tentariam prendê-lo em um domingo e que o levariam para Goiânia. Depois, se livrariam do corpo dele  no meio do caminho. Em seguida, segundo o próprio ministro à imprensa,  "eu deveria ser preso e enforcado na Praça dos Três Poderes, para sentir o nível de agressividade e ódio dessas pessoas, que não sabem diferenciar a pessoa física da instituição”.

Essas declarações por si mesmas seriam suficientes em qualquer democracia para seus pares afastá-lo da relatoria do inquérito, uma vez que ele próprio admite que era vítima e que  os golpistas não sabiam diferenciar a pessoa física dele com o cargo de ministro.

Os ministros precisam entender o nível de parcialidade do relator. Considerá-lo impedido de continuar na relatoria do inquérito restabeleceria a confiança da população no tribunal e pouparia  Moraes -  um dos quadros mais qualificados do STF, que peca apenas por não saber separar a pessoa física do cargo que exerce na Suprema Corte. Lamentável.

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ASSUNTOS: Alexandre de Moraes, Bolsonaro, STF

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.