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Sem leitura, não há verdade. Nem democracia


Por Raimundo de Holanda

14/01/2023 20h12 — em
Bastidores da Política



Em 1979, quando iniciei no jornalismo, as pessoas liam muito e tinham uma base crítica para avaliar o comportamento dos governos. Não foi a toa que nos anos 80 teve início uma ampla campanha contra o regime militar, jovens encheram as ruas do Brasil, pintaram a cara de verde e amarelo exigindo “diretas já”. O resultado todos conhecem: a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral.

O Brasil tinha mais analfabetos que hoje, mas havia uma massa crítica bem informada. Gente que esgotava os jornais nas bancas de revista. Gente que lia, lia muito e se  informava. Gente que entendia o valor da democracia.

Foi, também, um tempo de abertura política e de um  certo “afrouxamento” do peso da censura imposta aos jornais, inclusive em A Notícia, onde trabalhei.

A Internet caminhava a passos largos nos Estados Unidos e na Europa, mas não no Brasil e, portanto, tudo o que tínhamos eram os jornais e as revistas.

Recordo que na passagem do dia 19 para 20 de janeiro de 1981, eu estava de plantão na redação esperando o resultado da eleição nos Estados Unidos. Por volta da meia noite de Manaus, a Reuters, a agência de Noticias Internacional, expedia o último boletim: “Reagan presidente”. Enviei o texto para ser composto, montado na oficina, fotolitado e levado para impressão. O jornal estava impresso por volta de 5 da manhã.  Era um trabalho imenso, envolvendo muita gente - revisores, digitadores, montadores, impressores…

Essas lembranças vêm a propósito das comunicações terem avançado muito nos últimos 40 anos, mas espantosamente as pessoas estão menos informadas e mais propensas a espalharem boatos - algumas porque de fato acreditam nas informações que recebem, outras porque encontraram nas notícias falsas um instrumento poderoso de mobilização social e de poder político.

Tenho saudades de um tempo onde todas as dúvidas eram tiradas no dicionário do Aurélio e nada se copiava. Aqui e ali havia uma notícia falsa nos jornais, mas eram raras. Hoje está tudo muito confuso. E a confusão ocorre porque as pessoas deixaram de ler.

O Portal do Holanda tem 10 milhões de visualizações/mês, cerca de 1,3 milhão de usuários únicos. Esta coluna tem sido o carro chefe do portal, com 40 a 50 mil visualizações/dia. Mas não tenho certeza se todos os que acessam leem o que escrevo. Certamente 60% ou mais veem o titulo e já fazem um juízo de valor sobre o que não leram.

Aqui a resposta para muitos leitores que perguntam por que eliminamos a caixa de comentários das matérias no site: foi porque a maioria das pessoas que comentavam falavam sobre fatos alheios ao texto.

Sei que 40 anos depois, vale mais a imagem do que as palavras. É tempo de eu mudar também. Por isso resolvi criar um canal no YouTube para entrevistar gente anônima, mas que faz a história de um país que não para de ser desigual.  Em março. Mas a coluna vai continuar. Sou persistente…

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ASSUNTOS: Anderson torres, Bolsonaro, democracia, desinformação, internet, leitura, Lula

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.