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Semana Santa sem sexo. Há 40 anos…


Por Raimundo de Holanda

02/04/2023 20h42 — em
Bastidores da Política



Chovia naquela segunda-feira de abril1979, mas Manaus, ainda pequena e com traços europeus, não alagava. Havia uma cumplicidade com o silêncio e a fé. Sexo entre os casais, só no sábado de aleluia. Uma semana de castidade que meus pais não suportavam, mas resistiam heroicamente.  O diabo estava sempre tentando e a serpente de cabeça em pé tinha que ser pisada por minha mãe - a rainha da casa, a senhora do lar, temente a Deus.

Penso que meu a pai deve ter se reprimido muito e minha mãe, uma heroína.  Eram tempos em que sexo não era apenas uma necessidade, mas uma partilha de corpos que ao final gerava filhos nem sempre perfeitos, mas a família surgia ali, entre quatro paredes. Devia ser bom e bonito. Nada casual, tudo planejado como quem projeta um edifício.

O que posso dizer é que eles nos amavam e eu e meus irmãos os amávamos.

Nos divertíamos porque, quando se encontravam, as paredes da casa de madeira tremiam e os sussurros de prazer cortavam o ar. Depois eles  saiam do quarto  como se nada tivesse acontecido, ignorando nossos olhares inquietos por respostas que não eram dadas.

Mas essa é uma particularidade que não interessa aos leitores. Voltemos à Semana Santa. A sexta-feira era cruel.  Naquele ano caiu no dia 13 de  abril. A gente tinha que jejuar ou nos contentar com um mingau de milho até o amanhecer de sábado, quando saíamos para malhar Judas - o cara que vendeu Jesus por 30 moedas.

Pôxa, tempo bom aquele…

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ASSUNTOS: jesus, Judas, Páscoa, Semana Santa, sexo

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.