'Seu velho!'
Sou de uma geração que envelheceu e demorou a se dar conta disso. Como muitos de meus amigos, fora uma dor aqui, outra acolá, demorei a perceber que meu corpo havia mudado. Afinal, mantinha hábitos de menino - que nunca havia deixado de ser. Até aquele momento em que alguém, com raiva da vida, do mundo e das pessoas me chamou de velho. Nada ofensivo, mas acordei para uma realidade que o espelho escancarou.
Eu estava ali, parado, tentando me reconhecer. Havia marcas de tempos passados, toda uma história estampada em minha face. E os olhos fundos, antes vívidos e brilhantes, também pareciam perdidos.
Como não notei isso antes? Foi preciso alguém frustrado consigo mesmo, incapaz de seguir seu destino, cruzar o meu caminho para que eu me reconhecesse velho?
Mas também isso tudo me fez comparar passado e presente. Cheguei até aqui quando muitos se perderam. Envelhecer é um privilégio que muitos poucos têm, porque significa ter seguido um caminho também para poucos, assistindo o mundo se transformar.
E ficou um pensamento sobre essas pessoas rancorosas, tomadas pela inveja e pelo ódio. O de que elas, incapazes de viver bem consigo mesmas, já nasceram envelhecidas e perdidas. O destino cobrará delas o seu preço.
E que estão condenadas e viver nessa escuridão. Talvez falte espelhos nos quais se olhem e se descubram como são: insignificantes.
Bendito o Senhor que me concedeu longevidade e esperança, que mostrou caminhos e me conduziu até aqui.
ASSUNTOS: ETARISMO, Manaus, VELHICE
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.