Sistema de justiça foi o mais abalado pela greve dos professores
- Os professores voltaram às salas de aula, mas a greve que realizaram e as conquistas que obtiveram deixaram o governo menor. O entendimento de que “decisões judiciais não se discute, se cumpre”,foi seriamente abalado.
A greve dos professores no Amazonas provocou problemas sérios para os estudantes. Eles terão aulas repostas sem que o calendário escolar seja alterado. Já vinham de um período de isolamento provocado pela pandemia. Aulas remotas se revelaram um fracasso. A evasão aumentou e a greve - considerada ilegal desde o seu início - apenas contribuiu para aumentar o fosso entre escola e aluno, professor e aluno, escola e famílias.
A luta dos professores por melhores salários é justa, mas a que preço para os estudantes? Ao final, quem perde e quem ganha? Os professores levam um reajuste menor do que pretendiam, mas são ganhos comemorados pela categoria, premiada duplamente com o recuo do governo que resolveu pagar os dias parados. Quer dizer, por mais que se considere a figura do professor insubstituível no processo de aprendizagem, é justo que ele cumpra seu papel, comparecendo à sala de aula.
Se a greve foi considerada ilegal pela Justiça, não cabia ao governo pagar os dias parados. A razão é simples: não trabalharam, a justiça mandou descontar as faltas e puniu o sindicato da categoria com multa diária de 50 mil.
Abonar os dias parados, como fez o governo, foi passar por cima de decisão de uma Corte chamada para mediar conflitos de interesse.
Se o Sinteam ignorou as medidas adotadas, o Estado também passou por cima de uma ordem que, como autor da ação, deveria respeitar e não o fez.
Os professores voltaram às salas de aula, mas a greve que realizaram e as conquistas que obtiveram deixaram o governo menor. O entendimento de que “decisões judiciais não se discute, se cumpre”,foi seriamente abalado. O risco é ser transformado apenas em uma ideia em permanente desuso.E isso não pode ser tolerado.
ASSUNTOS: governo do amazonas, greve dos professores, Sinteam, Wilson Lima
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.