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Sobre o choro que irritou o desembargador Elci e a nota da OAB


Por Raimundo de Holanda

23/08/2022 20h32 — em
Bastidores da Política



O caso envolvendo uma advogada e o desembargador Elci Simões, durante uma audiência por videoconferência, ganhou a mídia numa medida incomum. Pipocaram notas de repúdio. A mais dura partiu da OAB - Amazonas, para quem “a maternidade é ainda uma estranha fissura em nossa sociedade”. Não é. E aqui reside não apenas exagero da entidade, que foi além, reforçada pelo argumento de que “a mãe não tem como controlar o choro de uma criança ou exigir dela o silêncio”. De fato, mas tratava-se de uma audiência e se o desembargador errou foi ao falar de “ética”, não da necessidade de uma mãe que talvez não tivesse com quem deixar o filho naquele momento.

Simões poderia  ter  sugerido  aos seus pares que o julgamento do processo fosse temporariamente interrompido ou colocado no final da pauta, até que a advogada acalmasse a criança.  Mas essas são exceções.

A  OAB não pode defender que esses inconvenientes em julgamentos se transformem em regras. Porque quando isso acontece, outras exceções começam a aparecer. Ceder a todas elas é perigoso. Interferem na decisão dos magistrados e interferem na liberdade de terceiros.

O que está em jogo num tribunal não é apenas a forma como o advogado se apresenta ou se comporta. Ou um juiz julga: é o direito de alguém que, no caso, estava apenas representado pela advogada.   Por  isso esses  julgamentos exigem comedimento, atenção, interesse na causa. E nos quais vale menos o processo de inclusão  de problemas  de relacionamento de mãe e filho  e mais, muito mais, absolutamente mais o direito daqueles  que conferem ao advogado ou advogada  o direito de  representá-los no tribunal.

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.