Sobre o inquérito que apurou massacre de 17 'bandidos' em Manaus
Arquivem-se as acusações. Os tempos são outros. De silêncio e de cumplicidade.
O massacre ocorrido em 28 de outubro no bairro do Crespo, em Manaus, foi resultado de uma ação defensiva da PM contra um grupo de bandidos. É, em síntese, a conclusão do inquérito aberto para apurar o caso. Nada relacionado a uma suposta homenagem dos policiais a palavra de ordem de Bolsonaro, de que “bandido bom é bandido morto”, apesar do número de 17 do partido pelo qual seu Jair elegeu-se presidente. E seria temerosa essa tese. Bolsonaro acaba de mudar de partido - o Aliança Pelo Brasil, que ainda está na forma - terá o número 38. Viria um novo e tenebroso massacre por ai ? Bobagem! A PM não mata. Mas o massacre, defensivo ou não, foi um escândalo. O inquérito aberto tinha resultado previsível. E sua conclusão é uma peça de retórica, não um conjunto de atos e diligências que exponham uma verdade incontestável .
É verdade que o Código de Processo Penal veda “opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito”, mas também assinala que “deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal” (art 107 do CPP). Havia motivos para qualquer delegado manifestar suspeição por variadas razões, mas duas são fundamentais:1 - os acusados são policiais; 2 - o comando da polícia está a cargo de um coronel que defendeu desde o início a operação.
Mais do que nunca era necessário constituir uma comissão independente para apurar as circunstâncias das mortes. Em outras tempos, menos sombrios, OAB e Igreja teriam se manifestado. Silenciaram.
A Unidade de Apuração de Atos Infracionais da Polícia Civil do Amazonas (Uaip) e o Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO), que comandaram as investigações não tinham ou não têm, para o caso, a necessária independência e imparcialidade para conduzir um inquérito sem que seus resultados deixem de implicar em fortes suspeições.
Arquivem-se as acusações. Os tempos são outros. De silêncio e de cumplicidade.
ASSUNTOS: 'BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO', Bolsonaro, cv, fdn, Manaus, policia militar
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.