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Sobre o preto no branco e a cartilha ‘infantil’ do TSE


Por Raimundo de Holanda

11/12/2022 20h31 — em
Bastidores da Política


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O Brasil é o País do “politicamente correto”, mas o mais  desigual e não menos hipócrita. Como não prioriza a educação - base para a mudança da mentalidade atrasada de um povo “ignorante por natureza”, recorre a leis cada vez mais severas para acabar, por exemplo,  com o racismo - que é latente na sociedade brasileira.

O lançamento da Cartilha “Expressões Racistas, por que Evitá-las”, chancelada pelo Tribunal Superior Eleitoral,  é o retrato desse mesmo atraso e de um olhar vesgo sobre um problema  histórico que está ligado intrinsecamente a formação do povo brasileiro. A cartilha  pode ser acessada no site do tribunal.

Ela  expõe expressões que recomenda que não sejam utilizadas por supostamente  estarem “carregadas de racismo  estrutural”. Como é patrocinada pelo TSE -  o que é estranho, por não ser essa a função da  Corte - por enquanto as expressões aparecem como sugestão de não uso. Mas é um passo para que projetos de leis apareçam suprimindo-as dos dicionários e tornando seu uso criminoso.

Não faz sentido banir, por exemplo, a expressão “a coisa tá preta”, porque os autores da cartilha entendem que se refere a coisa de preto, "uma forma racista de definir serviços mal feitos ou desagradáveis”. Até a palavra denegrir consta na cartilha como sugestão de não uso, uma vez que seu significado , no entendimento de seus editores, “é  tornar negro”.

A expressão banir é usada frequentemente na cartilha. Banir palavras e expressões. Mas o preconceito não será extinto com a criminalização do uso de expressões. Onde os autores veem preconceito, há costumes, há história, há folclore, há evolução da própria linguagem. 

Não vamos adiante.  É uma infinidade de bobagens, retrato de um País que não assume o racismo evidente na sociedade e nem busca a melhor maneira de lidar com o problema: a educação.

O livreto não trata, como deveria, da formação das crianças em idade escolar, não sugere nem propõe mudanças nos currículos escolares básicos para que se una os pedaços de um País dividido também pela cor. Mas serve para abrir um debate sobre o Brasil que queremos - o  que a cartilha não mostra - mas é um sinal onde erramos até mesmo quando a intenção é mudar, é construir, é buscar a igualdade.

Você já deve ter lido e ouvido, mas vamos reproduzir abaixo algumas expressões que a Cartilha sugere sejam banidas por "revelarem preconceito"...

  1. A coisa tá preta
  2. Barriga suja
  3. Boçal
  4. Cabelo ruim
  5. Chuta que é macumba!
  6. Cor de pele
  7. Criado-mudo
  8. Crioulo
  9. Da cor do pecado
  10. Denegrir 
  11. Dia de branco
  12. Disputar a negra
  13. Esclarecer
  14. Escravo 
  15. Estampa étnica
  16. Feito nas coxas
  17. Galinha de macumba
  18. Humor negro
  19. Inhaca
  20. Inveja branca
  21. Lista negra
  22. Macumbeiro
  23. Magia negra 
  24. Meia-tigela / de meia-tigela
  25. Mercado negro
  26. Mulata
  27. Mulata tipo exportação 
  28. Não sou tuas negas!
  29. Nasceu com um pé na cozinha
  30. Nega maluca
  31. Negra com traços finos 
  32. Negra de beleza exótica
  33. Negro de alma branca
  34. Ovelha negra
  35. Preto de alma branca
  36. Quando não está preso está armado
  37. Samba do crioulo doido
  38. Serviço de preto
  39. Teta de nega
  40. Volta pro mar, oferenda
  41.  

 

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.